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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

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28
Fev22

Comunicar com os filhos de forma positiva e eficaz

Educação

As intenções dos pais são sempre as melhores – ajudar os seus filhos a serem resilientes e a superarem desafios. Acreditamos que se formos duros com eles, eles ficarão mais bem preparados para a dureza da vida. E por isso, não os poupamos a críticas, aos nossos dedos apontados e aos nossos tons austeros e elevados. Naturalmente e de forma quase automática e tantas vezes inconsciente, tendemos a repetir o padrão daquilo que os nossos pais fizeram connosco … se funcionou connosco, certamente irá funcionar com eles também.

Se reativarmos as nossas memórias de infância, facilmente nos lembraremos que quando os adultos criticam uma criança, o que acontece, é que ela não deixa de os amar, mas deixa principalmente de se amar a si mesma. Por se encontrar ainda numa fase autocentrada de desenvolvimento, vira os seus sentimentos contra si própria e a sua autoestima fica seriamente afetada, deixando marcas para a vida adulta (isto não será certamente surpresa para nós, adultos, crianças de outrora, que cresceram a acreditar que não têm valor ou que não são suficientes).

Assistimos hoje a uma geração mergulhada num medo crescente de falhar e de ser criticada – preferem não arriscar, não fazer, deixar em branco, ficar calados, desistir, não tentar … do que correr o risco de serem criticados ou de não corresponderem àquele estereótipo de perfeição que eles próprios idealizam (no caso dos adolescentes, este efeito é exponenciado pela vivência paralela em redes sociais). Tolhidos por um mecanismo de comparação com os elevados padrões da comunicação e dos “mídia”, parecem bloqueados dentro do colete de forças que eles próprios criaram. Com uma pandemia à mistura, de um modo geral, estão a viver profundas dificuldades na gestão das suas emoções, entrando facilmente estados mais ansiosos ou agressivos. Esta geração necessita muito mais do apoio dos adultos do que nós alguma vez precisámos. Como os poderemos ajudar?

Em primeiro lugar, precisamos libertar-nos do nosso inimigo nº1: o nosso crítico interno, que vive em nós desde criança. Sim, já não precisamos dele. Já não somos crianças dependentes dos pais e por isso carentes de amor e aceitação.  Somos adultos, livres e autónomos, conscientes que o nosso autocuidado, autorrespeito e autovalorização interfere diretamente nas nossas relações. Somos por isso responsáveis por quebrar o padrão e não passar aos nossos filhos a mesma energia, limitadora e sabotadora do seu potencial. Só adultos equilibrados podem equilibrar crianças. Por eles e também por nós, precisamos desenvolver estratégias para nos mantermos calmos e equilibrados.

Depois, em segundo lugar, precisamos cuidar da nossa comunicação com as nossas crianças. O que nos leva a levantar o tom, a usar sarcasmo ou cinismo, a apontar o dedo, a recorrer à ameaça e a gritar? A nossa própria frustração de não conseguir controlar a situação. Só que, ao queremos controlar a situação, a criança cresce a aprender que as situações são para dominar e vai querer também controlar as situações da sua vida da mesma forma que fazem consigo. E jogo não pára, a não ser que o adulto pare! Todos podemos ter momentos de descontrolo, mas essa não pode ser a regra nem o princípio. Errámos? Voltamos atrás e recomeçamos. Pedir desculpa e assumir a responsabilidade dos nossos atos será um bom exemplo para que as crianças se permitam também errar (eles precisam tanto desse exemplo) e encontrar soluções mais positivas e benéficas. O foco positivo, o tom e a forma acolhedora da nossa comunicação é essencial, pois neste momento, muitos dos nossos jovens vivenciam um discurso interno bastante autocrítico e limitador.

Por terem o seu cérebro ainda em desenvolvimento, as crianças são muito mais afetadas por uma comunicação crítica e hostil. Sob pressão e ameaça, sentem medo e insegurança, desenvolvem uma maior tendência para a depressão ou para a agressão, e inevitavelmente, terão uma maior propensão para repetir o padrão parental. Assim sendo, o mais provável resultado dos nossos gritos e discussões, será que as crianças vão pensar que gritar é normal, que é a forma como se resolvem problemas e, naturalmente, vão também começar a gritar e a discutir connosco. Com a continuidade, o cérebro irá entrar em modo defensivo, ativar o seu sistema de sobrevivência, tornar-se imune aos gritos, e consequentemente, deixarão de nos ouvir. E aí ficarão entregues ao seu discurso interno, à comparação com padrões exagerados de perfeição e à troca de comentários entre pares, o que certamente lhes proporcionará altos índices de insatisfação e de desmotivação pessoal. 

Em alternativa, COMUNICAR COM OS FILHOS DE UMA FORMA POSITIVA E EFICAZ, pode passar por:

  • Estar num estado emocional calmo, próximo (olho no olho) e conectado com a criança/jovem.
  • Validar sentimentos e reconhecer a importância da situação – “Vejo que estás … / é importante para ti”. 
  • Entregar-se ao momento com tempo, dedicação e seriedade, questionando em tom curioso e empático, sempre focado numa solução positiva. 
  • Cuidar do tom e da forma das palavras – não responder no mesmo tom nem dizer nada que não gostaria de ouvir.
  • Impor limites com afeto e respeito, sem ofender ou humilhar.
  • Dizer o que se quer que a criança faça e não o que não se quer – dar instruções simples, curtas, diretas e positivas.
  • Reduzir o número de sugestões e ordens, oferecendo espaço para alguma liberdade de escolha e decisão.
  • Dizer SIM (não dizer tantas vezes a palavra NÃO), procurando dar alternativas positivas dentro de determinados limites.
  • Repetir sempre que a criança não tenha ouvido ou percebido.
  • Estabelecer regras e acordos, que considerem as necessidades de todos, e confiar no resultado, dando tempo para que o combinado seja cumprido pela criança ou jovem.
  • Avisar previamente que está a chegar o momento de cumprir um acordo ou ação (ex: 5 ou 10’ antes).
  • Elogiar sempre que o combinado é cumprido, valorizando o processo e as qualidades/habilidades passíveis de desenvolvimento, e não outros atributos inatos e imutáveis.
  • Reconhecer e pedir desculpa quando erramos e perdemos a paciência. Dar tempo para que ambos voltem à calma.

Pode parecer muita coisa ao mesmo tempo, mas trata-se de um modo de estar que se vai cultivando a pouco e pouco. Em doses homeopáticas, hoje um pormenor, amanhã mais outro, porque a educação é aquilo que fazemos repetidamente.

Numa altura em que as crianças e os jovens tanto precisam da nossa ajuda, cuidar da nossa comunicação é cuidar da saúde mental e emocional dos nossos filhos, é quebrar o padrão, criar uma relação mais saudável e investir no futuro. Pais que escutam e interagem positivamente com os filhos tendem a ter filhos que, mais tarde, na adolescência também escutam e interagem com os pais.

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