CRESCER JUNTOS
Educação
Educar é uma tarefa que se tem tornado cada vez mais desafiadora. Vivemos um tempo em que aquilo que aprendemos com os nossos pais já não funciona com os nossos filhos. Hoje as crianças são educadas pela família, mas também pela tecnologia a que têm acesso e pelas redes sociais a que continuamente se ligam. Parece que os pais e os professores perderam autoridade e a capacidade de influenciar os seus próprios filhos ou alunos, somente porque são pais ou professores, e que cada vez mais, se torna necessário (e imperioso) reconquistar a atenção, o envolvimento e o respeito dos mais novos.
Cada criança é única e, à sua maneira, especial. As crianças são diferentes e necessitam duma educação ajustada às suas características singulares. Sabemos pela nossa prática diária que o que resulta com um filho ou com um aluno pode não resultar com o outro. Mas também sabemos que apesar desta individualidade, para prosperar e se ser bem-sucedido, todos necessitam igualmente, por parte dos pais, dos educadores ou dos adultos de referência, de uma atitude afetuosa e gentil associada à presença de uma disciplina e firmeza na definição das regras.
Já todos assistimos e vivemos situações desafiantes em que, exaustos, colocamos um ponto final num conflito com os miúdos socorrendo-nos do nosso poder mais autoritário, do género “Ou te levantas, ou não vês a tua série.”, “É assim, porque sou teu pai!” ou “Senão te calas, sais da sala”. Pontualmente e de momento, até resulta, mas não nos livramos da repetição de cenas similares.
Contrariamente ao que já foi tentado, deixar as crianças fazerem aquilo que querem da forma que querem, também parece não ser uma boa solução, pois a neurociência alerta-nos para o facto de as crianças ainda não terem desenvolvida a maturidade neurológica para saberem escolher o melhor para elas e sobretudo, para conseguirem gerir de forma racional as suas emoções.
Como ponto de equilíbrio entre o excesso de rigidez e o excesso de permissividade na educação das crianças, surgiu no final do século XX, criada por Jane Nelsen, a abordagem da DISCIPLINA POSITIVA, na qual a empatia, o afeto, o respeito, a compreensão, a responsabilidade, o exemplo e a aprendizagem mútua surgem com fatores estruturantes duma educação mais eficaz e mais conectada.
A proposta é educar simultaneamente com FIRMEZA e GENTILEZA, sem punições, castigos ou recompensas despropositadas. Trata-se de estipular limites (as crianças precisam de limites que lhes deem segurança) e de saber dizer “não” com empatia (as crianças também precisam de se sentir amadas, aceites e respeitadas), para que o seu crescimento emocional e a sua maturação neurológica se desenvolvam de modo saudável e exponencial.
Não se trata de acabar com os castigos ou de deixar os filhos fazerem o que querem. Trata-se de desenvolver a responsabilidade, de oferecer escolhas limitadas e de deixar vivenciar consequências. Somente o facto de dar a possibilidade de escolha à criança, faz com que esta se sinta aceite, compreendida e fortalecida, bem como gera aquela conexão que tantas vezes sentimos perdida.
Sem queremos decidir e orientar tudo à nossa maneira, estaremos a dar espaço e tempo para a criança descobrir quem é, bem como a favorecer o desenvolvimento da sua identidade, responsabilidade, autonomia, cooperação, confiança e autodisciplina. Desta forma estaremos certamente a formar pessoas mais aptas que, futuramente, serão mais capazes de gerir as suas emoções, resolver problemas e decidir o seu destino.
Exemplificando: Quando uma criança quer comer bolachas antes da refeição, o adulto diz que não, mas a criança teima. Perante a insistência, para tentar minorar a vontade, o adulto reforça a regra de não se comer antes das refeições e dá-lhe a escolher entre as frutas que tem em casa. Desta forma, manteve as “regras”, considerou a necessidade da criança, foi flexível e propôs uma solução positiva.
Então vamos lá. A DISCIPLINA POSITIVA baseia-se em 5 PILARES:
- Ser gentil e firme ao mesmo tempo (dar limites com afeto), encorajando o respeito mútuo através do exemplo do adulto.
- Ajudar as crianças a sentirem-se importantes e aceites, gerando um sentimento de conexão e de contribuição.
- Ser eficaz a longo prazo (ao contrário da punição que funciona a curto prazo), porque considera o que a criança pensa e sente, estimulando a aprendizagem da autorresponsabilidade e da autodecisão.
- Ensinar habilidades de vida estruturantes da formação de um bom caráter, como o respeito, o autocontrolo, a preocupação com o bem-estar dos outros, a capacidade de resolução de problemas, a responsabilidade, a cooperação, a compaixão e a contribuição.
- Encorajar as crianças a descobrirem as suas próprias capacidades e talentos, e ainda a usarem o seu poder pessoal de forma autónoma e construtiva.
Façamos agora uma reflexão sobre nós mesmos, os adultos. Quando é que nos sentimos mais motivados a agir? Honestamente, quando somos tratados de forma grosseira sentimo-nos estimulados a fazer alguma coisa? Não, pois não? De um modo geral, quando nos sentimos atacados temos a tendência a entrar em modo defensivo e de sobrevivência. Se é assim connosco, é também assim com as nossas crianças. O que nos levará a acreditar que para levarmos as crianças a se comportarem bem, primeiro, precisamos de as fazer sentir mal? Ou, de onde terá vindo a crença de que para aprender, primeiro é preciso sofrer?
Pelo contrário, a emoção positiva abre as portas da curiosidade, da autoconfiança, da aprendizagem e da criatividade. As crianças são apenas crianças. O seu cérebro mais racional e executivo está ainda em desenvolvimento. Precisam da intervenção do adulto para as ajudar a regular o seu vasto mundo emocional e a direcionar o seu comportamento, e não apenas para lhes apontar o dedo para o que está mal. Precisam de quem lhes abra o caminho da solução e que, de forma afetiva e firme, lhes induza uma DISCIPLINA POSITIVA.
Porém, a Disciplina Positiva não é útil apenas para os mais novos. A Disciplina Positiva tem o dom de impactar positivamente a criança que usufrui desta metodologia e também o educador que a aplica. Contudo, não sendo algo que produza efeitos imediatos, os resultados vindouros serão consistentes e recompensadores. Requer tempo, paciência (com a criança e com o adulto também, pois também nós temos os “nossos dias”), persistência e o envolvimento de toda a família na compreensão das peculiaridades da personalidade, gostos e rotinas pessoais, bem como um atento e contínuo fortalecimento dum sentimento de pertença.
A Disciplina Positiva não é permitir que a criança faça de tudo, mas também não é uma receita milagrosa e rápida para birras e teimosias. Compreender e seguir a Disciplina Positiva significa estar disponível para trabalhar diariamente aspetos de inteligência emocional, como o autocontrolo e a empatia, requerendo resiliência e um exercício atento.
Na prática pode não ser fácil, pois também nós temos dias em que estamos mais irritados e com menos paciência, mas é por isso que, mais do que um modo de educar, a Disciplina Positiva é um modo de pais e filhos CRESCEREM JUNTOS.