Ensinar a Pensar (III)
Educação
Na sequência dos posts anteriores, Ensinar a Pensar (I) e Ensinar a Pensar (II) vamos hoje avançar para uma abordagem prática dirigida aos adolescentes.
Aprender a pensar é um processo de desenvolvimento que se adquire de forma progressiva ao longo dos anos. Exigir aos nossos jovens que o façam eficazmente quando, em criança, lhes resolvemos todos os seus pequenos desafios de criança, é esperar colher batatas quando plantámos cebolas. Quando são pequenos é-nos mais fácil e ligeiro dizer-lhes o que fazer, dar-lhes sugestões e indicar-lhes as soluções. Apesar de ser mais rápido e prático, ao fazê-lo, estamos a impedir os nossos filhos e alunos a desenvolverem a habilidade de observarem e sentirem os acontecimentos da sua vida, de refletirem sobre a situação, de tomarem decisões e resolverem os seus dilemas diários. Ou seja, desejamos que eles sejam independentes, mas não investimos seriamente nos alicerces da construção dessa autonomia.
Perguntam, mas pensar não é uma capacidade natural? Sim e não. Sim porque somos seres racionais. Não porque nascemos com o cérebro reptiliano (instintivo) e límbico (emocional) desenvolvido, mas com o neocórtex (racional) em desenvolvimento até ao final da adolescência, idade que se situa cada vez para lá dos 20 anos (parece que nos esquecemos vezes demais deste facto). As crianças e os jovens não têm apurada a capacidade de pensar criticamente sobre as suas próprias vivências, e por isso, não podemos esperar que o façam, simplesmente porque o seu “software” ainda não está pronto.
E a melhor forma de fazer, sem dar sugestões ou soluções, é fazendo BOAS PERGUNTAS, plenas de interesse e curiosidade. Aqui ficam 8 PASSOS para ajudar os jovens a pensar sobre a sua vida e as suas opções:
1) Esclarecer com o jovem qual é seu o objetivo (desejo).
Exemplos: Para ti, o que é realmente muito importante atingires na vida? O que realmente queres ou desejas? Porque é que isso é importante para ti? Acreditando que tens todas as capacidades e competências, o que queres ter no lugar do que tens agora? Num mundo onde tudo é possível o que queres ter/ser?
2) Perguntar quais as formas ou caminhos que ele vê como possíveis para alcançar o seu objetivo. Fazer uma lista de todas as ideias – tudo é possível!
Exemplos: Como pensas fazer isso? O que é importante garantir ou fazer para alcançares o teu objetivo? Que competências ou habilidades, se desenvolveres te podem ajudar no teu objetivo? Como podes fazer? Que outras formas serão possíveis? Quais funcionarão melhor neste caso?
3) Perguntar aos colegas, amigos ou pessoas que ele admira, como resolveram ou resolveriam a questão. Fazer uma lista de todas as ideias, sem eliminar nenhuma.
Exemplos: Conheces alguém que tenha vivido e resolvido este tipo de situação? Que soluções os teus amigos encontraram? Como fizeram? E como é que essas pessoas que consideras “capazes” fariam?
4) Depois de identificadas todas as opções, fazer uma triagem de alternativas e perguntar que caminho quer seguir.
Exemplo: Perante estas possibilidades o que acreditas que se encaixa melhor em ti/na situação? O que sentes que será melhor para ti? Que desafios poderão surgir ao seguires este ou aquele caminho? Qual queres escolher?
5) Decidido o caminho, perguntar quais são os recursos necessários e que pessoas poderão estar envolvidas (pessoas, materiais, equipamentos, conhecimentos, iniciativas, atitudes, ações).
Exemplo: Vamos fazer uma pequena lista de que irás precisar para realizar/resolver a situação.
6) Perguntar que riscos e possíveis problemas podem surgir nesse caminho
Exemplo: Existem obstáculos para lá chegar? Vamos fazer um exercício sobre possíveis problemas que poderás ter de enfrentar …
7) Elaborar um Plano de Ação para eliminar ou minimizar riscos
Exemplo: O que podes fazer para eliminar esse risco? E este …?
8) Identificar indicadores ou evidências que comprovarão que conseguiu alcançar o objetivo
Exemplo: Que evidências/provas terás que te dizem que alcançaste/resolveste o problema/situação? O que precisa acontecer para te olhares ao espelho e dizeres: Resolvi!
Se queremos criar cidadãos que pensam pela sua própria cabeça, que vão atrás dos seus objetivos e encontram a sua própria solução, precisamos de aprender a AJUDAR AS NOSSAS CRIANÇAS E JOVENS A PENSAR. Neste mundo tecnológico é cada vez mais indispensável criar condições para as nossas crianças e jovens aprenderem a gerir emoções e a pensarem de um modo crítico ... se assim não for, acabaremos por ser instrumentados ... e não quem usa e controla o instrumento!
Mais do que proteger, facilitar e preparar o caminho para as crianças e jovens, temos de mudar o foco, ser mais empáticos e descobrir como poderemos preparar os nossos jovens para o caminho a seguir, seja ele qual for!!
Fonte: TeenCoaching/ICIJ