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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

03
Jun21

Regras & Acordos

Educação Positiva

Na sequência da publicação anterior sobre o porquê de sentirmos dificuldade em estabelecer regras com as crianças e jovens de hoje, seguimos hoje no sentido de acrescentar ainda mais valor ao tema.

O estabelecimento de REGRAS & ACORDOS com as nossas crianças e jovens implica a necessária habilidade de fazer acordos sem imposições, chantagens ou punições.

Em termos conceptuais, um ACORDO é um pacto resultante dum encontro de ideias e sentimentos, que requer uma abertura à mudança, flexibilidade e conciliação de anseios. Através da aceitação e da escuta de todas as partes, leva à descoberta de novos pontos de vista, que num movimento confluente no sentido duma solução comum, inclui ganhos para todas as partes.

Nada de novo para nós … mas será que se aplica na relação com crianças e jovens?

Por outro lado, a chantagem não é nem nunca será um ato educativo. É mais um ato desesperado de quem não tem mais recursos no momento. Não obstante, não reforça positivamente um novo e desejado comportamento porque não origina uma adesão voluntária, uma reflexão ou um compromisso pessoal. A intenção é distorcida em função dum resultado, e por conseguinte, a médio prazo, o efeito também não será o esperado.

A imposição é e será sempre uma repressão que prejudica muito a relação, pois a criança entende que não pode exprimir ou realizar o que pensa, sente ou quer … com todas as consequências que hoje, como adultos, sentimos na nossa própria pele (eu sinto!).

É verdade  que o castigo ou a punição, têm um efeito imediato na diminuição do comportamento indesejado e na redução da probabilidade da sua repetição … mas não resolvem a questão de um modo mais profundo e categórico. Muito provavelmente, tendem a aumentar a revolta e a propensão para a afronta, porque naturalmente, a criança não compreende a ligação ou a razão por que está a ser castigada (com me lembro de, em criança, sentir esta revolta dentro de mim!).

A neurociência explica o porquê das crianças até aos 12 anos não reagirem aos castigos com aquelas aprendizagens que os adultos esperam e desejam … mas antes pelo contrário, serem levadas a se adaptarem e a encontrarem estratégias de pura sobrevivência, não deixando por esse motivo, de se sentirem injustiçadas e incompreendidas (como me lembro de sentir esta incompreensão … que dava lugar a uma raiva que eu desconhecia, mas que brotava envergonhada de dentro de mim!).

Quando, em vez de imposições (“Porque sou tua mãe!”) e de castigos (“Ficas sem o telemóvel para ver se aprendes!”), escolhermos o caminho da real participação da criança/jovem em ACORDOS e COMBINAÇÕES, no seu cérebro, abre-se um novo caminho neurológico.

Estas novas ligações cerebrais permitem a realização de novas aprendizagens, geram a expansão do mapa mental da criança e facilitam naturalmente uma adaptação social ajustada ao contexto em que a criança/jovem se insere, pois foram criadas com base numa efetiva e eficaz compreensão daquilo que pode fazer, e da FORMA COMO o pode fazer.

Muitas vezes as crianças não entendem as “explicações dos adultos” e é preciso aclarar de forma muito concreta e específica aquilo que dizemos e que queremos das crianças. Não nos esqueçamos que o desenvolvimento do cérebro decorre até perto dos 20 anos. Até lá, é o adulto que em parte, tem de fazer esse papel …

Por isso, a construção de REGRAS & ACORDOS assenta numa construção conjunta, baseada numa curiosidade genuína e numa escuta ativa por parte do adulto, bem como numa indispensável abertura à mudança, onde o adulto divide a responsabilidade da resolução de determinada situação com a criança/jovem.

 Nestes casos, a linguagem utilizada deve ser concreta e específica para que a criança/jovem entenda sem qualquer dúvida o que se espera dela/e (é essencial não presumir que a criança/jovem entende o conceito da mesma forma que o adulto).

Sempre com foco na solução (não referindo situações passadas) e para que o ACORDO seja efetivo e eficaz, a participação genuína da criança/jovem deverá ser sempre estimulada e encorajada pelo adulto.

Vamos ao passo a passo:

  1. Colocar o problema – cada parte coloca o seu ponto de vista, revelando motivos e sentimentos, tanto quanto possível de forma isenta, factual e sem julgamento.
  2. Expor as regras da casa (ou da escola)  e propor para essa situação uma construção conjunta de Regras & Acordos.
  3. Através de BOAS PERGUNTAS, questionar a criança/jovem sobre o que pensa sobre isso e como acredita que se pode resolver o problema.”Como podemos resolver isto?”
  4. Construir em conjunto – continuar a perguntar, a ouvir as propostas da criança e ir avaliando em conjunto quais serão as que fazem mais sentido e serão mais eficazes… até se encontrar uma solução equilibrada (win-win).
  5. Considerar sempre as possíveis e reais consequências do não cumprimento do “acordo” – “Se não cumprires … “ o que pode acontecer … pois a criança não tem ainda a maturidade neurológica e a capacidade inata de prever as consequências dos seus atos. 
  6. Fixar o acordo (passa a ser uma regra) e valorizar a decisão.
  7. Se a criança não cumprir a regra acordada, não é o momento para deixar de acreditar nela, mas de deixar a criança vivenciar as consequências. Só depois dessa vivência se deverá ter uma nova conversa para acertar novamente as “Regras e Acordos”, passando de novo a responsabilidade da resolução do problema para a criança/jovem.

Quando as regras são combinadas e não impostas, os acordos viram regras! Inicialmente, poderá ser um processo mais moroso, mas a longo prazo, os resultados serão bem mais consistentes!

E afinal, honestamente, como é connosco, adultos?

Quem não prefere participar e ser ouvido nas regras da sua própria vida?

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FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching

21
Abr21

A arte de se conectar

Família e Educação

O meu filho não fala comigo! Está-se sempre a escapar…

O meu filho não me ouve e não faz o que tem de fazer.         

 Lá em casa não conseguimos ter conversas tranquilas ou produtivas ...

As crianças estão cada vez mais percetivas e ligadas. Elas conectam-se naturalmente, não com aquilo que dizemos (e quem já não deu por isso?), mas com aquilo que veem, com aquilo que sentem e com aquilo que facilmente conseguem “ler” sobre aquilo que não é dito, mas pensado. Parece que as crianças do século XXI vêm equipadas com um novo software que lhes permite comunicar de uma forma diferente daquela a que sempre estivemos habituados.

Hoje em dia é mais difícil “enganá-las” com palavras, a menos que elas se deixem levar por interesse próprio. Elas percebem quando estamos a tentar manipulá-las e os nossos esforços mais “clássicos” tornam-se infrutíferos e desgastantes. Rapidamente percebemos que aquilo que resultou connosco quando éramos crianças, já não resulta mais! Algo mudou, mas não sabemos bem o quê, nem o que de melhor podemos fazer. Os miúdos não vieram com manual de instruções!

As crianças e os jovens da atual geração (Geração Z) têm muito mais informação à sua disposição, são mais hábeis na conexão à distância e são mais percetivos em alguns aspetos. Porém, não estão mais preparados, não são mais maduros nem têm a necessária habilidade cognitiva para conseguir lidar com tanta informação e tanta sensação que lhes chega pelos mais variados meios e das mais variadas formas.

Hoje mais do que nunca, as crianças e os jovens necessitam da presença e do apoio atento do adulto para conseguirem lidar com essa pilha de informação e de emoção. Sim, agora que a vida também exige cada vez mais de nós, em que o tempo foge, em que a segurança e a estabilidade social e familiar são horizontes sempre longínquos, estamos ao mesmo tempo a ser chamados para sermos mais conscientes e assertivos nas nossas escolhas e atitudes na educação da geração mais nova. Não está fácil!

Aquilo que funcionou connosco quando éramos crianças, não funciona com os nossos filhos. Nós “virámo-nos” praticamente sozinhos. Ok, mas sejamos honestos … isso teve um preço emocional que muitas vezes evitamos enfrentar e revelar, até para nós mesmos. Será que queremos o mesmo para os nossos filhos? Mesmo agora, e depois de saber que atualmente eles vivem um tempo pleno de desafios em que uma intervenção presente e orientadora do “adulto cuidador” pode ser basilar num crescimento equilibrado e emocionalmente saudável? Verdadeira e certamente, não é isso que desejamos para os nossos os filhos.

“Os meninos não têm querer”! Esta frase que sistematicamente ouvi na minha infância, sempre me irritou profundamente desde a mais tenra idade. A única maneira que encontrei para lidar com ela foi deixar crescer uma raiva dentro de mim, que sempre me levou a responder em surdina: “Quando eu crescer tu vais ver!”. Se cresci? Cresci. Mas não foi bom. Levei muitos anos a descodificar tanta emoção reprimida dentro de mim.

De alguma forma, a tendência geral para menosprezar as opiniões, problemas, sentimentos e emoções das crianças e jovens (simplesmente porque “isso vai passar”), deixa a criança a lidar sozinha com desafios para os quais, segundo a neurociência, ainda não tem desenvolvido os recursos mentais necessários para tal. Os “problemas” das crianças e dos jovens são problemas reais, de pouca dimensão para o adulto, mas de enorme dimensão na perspetiva dessa criança ou jovem. Fazem parte da sua plataforma de aprendizagem e de crescimento, e ignorá-los ou fingir que é normal e que está tudo bem, não ajuda. Por outro lado, aprender a lidar com eles de forma positiva, consciente e deliberada … ajuda. Por isso, qualquer intenção de conexão dos pais com os seus filhos necessitará partir deste pressuposto de respeito pelos sentimentos e emoções que a criança ou o jovem estão a sentir naquele momento, sem desvalorizar ou julgar, mas compreendendo e acolhendo. A password de acesso a uma eficaz conexão com os nossos filhos passa primeiro pelo reconhecimento da sua “dor”.

Então, o QUE é importante para uma boa conexão com as crianças e jovens?

1 - Ter noção que cada família tem a sua especificidade e o seu modo próprio de funcionar. Por isso não existem receitas nem uma solução única que funcione para todas as famílias. Porém existem princípios que podem ajudar os pais a encontrarem a solução que funciona melhor no seu sistema familiar. A coragem de experimentar novas abordagens ou de mudar algo em si próprio, pode impactar muito positivamente a rotina e o ambiente familiar.

2 - Colocar a password de acesso através de uma verdadeira conexão emocional, possibilitando assim uma profunda conexão racional. Para uma conexão eficaz, teremos de ativar as duas em simultâneo. Esse é o caminho para a criança ou o jovem se sentirem parte desse grupo/família.

3 - Ter uma comunicação clara sem escamotear aquilo que verdadeiramente se pensa ou se sente – dar o exemplo ao exprimir os seus próprios problemas ou desafios e as suas próprias emoções, estimula as crianças e os jovens a fazerem o mesmo e evita reações intempestivas ou descontroladas, tão prejudiciais ao bem-estar familiar.

4 - No relacionamento com a criança e/ou jovem, é importante não partir de pressupostos e alimentar uma genuína curiosidade para aceder ao mundo da criança e/ou do jovem. Ou seja, antes de presumir, julgar ou criticar, é melhor perguntar para compreender (e não apenas para sugerir ou mandar).

5 - Não perguntar “porquê” a criança ou o jovem fez o que fez (ela não tem o desenvolvimento neurocerebral para responder!!) nem cobrar coisas do passado. Em contrapartida, focar-se na solução, ser pragmático e partir do momento presente para aquilo que se pretende que aconteça.

6 - Estimular a autorresponsabilidade, levando a criança ou o jovem a perceber o que está a acontecer e o que pode fazer para obter um resultado que sirva melhor os seus desejos, bem como os das outras pessoas.

7 - Manter um diálogo valorativo daquilo que a criança ou o jovem diz, praticando uma escuta que inclua os seus sentimentos e opiniões na solução encontrada e colocada em prática.

8 - Ter uma comunicação auditiva – não explicar ou apenas falar, mas “ouvir com os olhos”, olhando olho no olho e elevando ligeira e suavemente as sobrancelhas como sinal de aceitação, entrega e acolhimento do momento (conexão emocional).

9 - Ter mais foco na dinâmica emocional da relação e não tanto nos detalhes objetivos do conteúdo.

10 - Entrar no mundo da criança ou do jovem partilhando com prazer os seus interesses e participando nas suas brincadeiras e/ou atividades (aumenta a ocitocina, hormona do bem-estar).

11 - Tratar as pessoas do modo que elas gostam ou preferem ser chamadas aumenta a conexão e cria aproximação. Pergunte sempre aos seus alunos ou ao seus filhos como gostariam de ser tratados e chame-os dessa forma.

A conexão entre pais e filhos não acontece apenas "porque sim"! Não obstante e para tal, não precisamos ser pais e/ou educadores perfeitos ou muito populares. Precisamos apenas de ser pais ou educadores conscientes, coerentes ... humanamente falíveis e simplesmente felizes.   

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Fonte: ICIJ – Programa TeenCoaching - Método GrowCoaching

18
Mar21

A arte de escutar para compreender

Educação - Relacionamentos

Muitos de nós, a maioria … ouve mais para responder do que para compreender …

Não é uma crítica. É um facto, consequência do nosso crescimento e formação, da nossa perspetiva sobre aquilo que os outros esperavam e exigiam de nós quando erámos crianças. Aprendemos a ouvir para responder. Aprendemos a ter medo de errar. Aprendemos a estar à defesa. Aprendemos a sobreviver. E também aprendemos que sobreviver é dar a resposta certa (entenda-se a resposta esperada)!

Por isso é muito natural que estejamos mais “programados” para “OUVIR PARA RESPONDER” do que para “OUVIR PARA COMPREENDER”.

Qual foi a última vez que, antes de responder com uma crítica ou um comentário sobre algo que discordava, se permitiu parar e olhar com curiosidade genuína para as coisas importantes que o outro dizia?

Qual foi a última vez que, antes de responder, se permitiu deixar de lado o seu ponto de vista e tentar ver as coisas da perspetiva do outro, apenas e só com a intenção de o compreender?

E … qual foi a última vez que EU, que agora vos escrevo, também o fiz? Pois, não com tanta frequência quanto o desejo, mas está tudo bem … é um caminho que se aprende a trilhar!

Que não se pense que sou dotada de extraordinárias habilidades e venho para aqui ensinar. Apenas posso estar eventualmente um pouco mais sensível a este assunto e ter esta vontade de fazer melhor, de acolher e de partilhar aquilo que me parece poder ajudar.

Acredito que a nossa vida se rege muito pela qualidade das nossas relações, sejam elas pessoais, profissionais ou familiares. E saber escutar de forma ativa e disponível para entender, em vez de reagir ou automaticamente responder, pode trazer um acrescido bem-estar, compreensão e satisfação pessoal, profissional e familiar aos nossos dias.

No que se refere à educação das nossas crianças e jovens, muito se poderá dizer. Uma das principais DORES DE INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, é de dor de se sentir constantemente incompreendido, julgado e criticado. Estão lembrados? Então porque nos esquecemos como, nessa altura, foi tão difícil para nós suportar essa dor e agora repetimos padrões dos nossos pais com os nossos filhos ou alunos?

Frequentemente ouvimos pais a afirmar que não conseguem comunicar com os seus filhos, que eles não os ouvem, que o que dizem não surte o efeito que desejam. Vale a pena parar para pensar em que ponto do ciclo da comunicação o fluxo foi cortado e como o podemos reatar.

E os pais explicam que tentam falar com os filhos, que se tentam interessar e fazer-lhes perguntas, mas que eles “fogem” e se “escondem” com respostas minimalistas e/ou totalmente insatisfatórias, tipo: “Correu tudo bem” ou “Nada de especial” ou “Ok” ou “Hum, hum”.

Duas questões se colocam: As perguntas que habitualmente fazemos serão as melhores perguntas para conduzirem às respostas que desejamos? Sobre este tema escrevi um pouco num artigo anterior neste mesmo blog – remeto-vos para lá: "A Arte de Perguntar".

A outra questão é: Será que quando perguntamos, estamos verdadeira e plenamente abertos á resposta, ou apenas perguntamos para confirmar, avaliar ou julgar, e desse modo (acreditamos nós) poder ajudar?

Uma boa conversa começa com uma simples pergunta: “Conta-me mais sobre isso …” ou “Para eu entender, o que poderia ser isso para ti?”

Porém, para que um bom início se materialize numa efetiva boa conversa, estas perguntas terão de serão seguidas duma ESCUTA ATIVA E INCLUSIVA.

Algo como: Entendi que me estás a dizer que não queres ir à escola. De acordo com o teu ponto de vista, como poderia ser para tu aprenderes e desenvolveres as tuas capacidades e habilidades?“

Para se conseguir construir uma BOA CONVERSA (não, não nasce de geração espontânea) tem de existir presença, conexão e um sentido biunívoco da comunicação. E para tal, não basta perguntar. É preciso saber escutar!

E quanto mais os pais e/ou professores de crianças e adolescentes aprenderem (sim, aprenderem!) a escutar, melhor e mais tranquila será a comunicação.

Uma BOA ESCUTA necessita ser:

- Ativa, com atenção plena, focada na criança ou no adolescente (sem interferências);

- Recetiva e acolhedora, com interesse genuíno no que a criança ou jovem tem a dizer, sem reações apressadas, comentários julgadores ou “mas” …

 - “Validativa”, ou seja com emissão de um sinal de que aquilo que está ser dito é válido e digno de ser considerado. A validação abre as portas do coração!

 - Inclusiva, que incluí aquilo que foi dito na construção duma possível solução;

 - Pró-ativa, ou seja, deve ser consequente e de alguma forma útil, sendo colocada em prática nas realizações que se seguem a essa conversa.

Só assim as crianças, os jovens ou qualquer pessoa, se poderá sentir verdadeiramente escutada, acolhida e incluída. Porque quando assim não é … todos vamos vivendo com aquela permanente e insistente sensação de que não somos ouvidos …

É tempo de PARAR, OLHAR e ESCUTAR … para melhor COMPREENDER e poder RESOLVER!

 

“Quando falamos estamos somente a repetir aquilo que já sabemos.

Mas se escutarmos, pode ser que aprendamos qualquer coisa nova.”

Dalai Lama

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07
Mar21

As crianças não são o futuro …

Educação e Politica Infanto-Juvenil

 

As crianças são o nosso futuro … sempre ouvimos dizer … desde que éramos crianças!

E assim passa o tempo, as crianças crescem, tornam-se adultos, pais, avós … e continuam sempre a ser o futuro!! Porém, o futuro é algo que ainda não chegou …

Por esse motivo, as crianças não são o futuro. São o PRESENTE. São de carne e osso, estão aqui e agora, com sentimentos, necessidades, desejos e anseios que precisam de ser cuidados, nutridos, considerados, acolhidos, respeitados, desenvolvidos … para que o futuro de amanhã seja melhor que o futuro de hoje.

Cuidar hoje da SATISFAÇÃO E BEM-ESTAR das nossas crianças, certamente produzirá adultos mais felizes e realizados, e consequente uma sociedade mais justa e equânime.

Mas vamos a dados concretos. Em 2020, a UNICEF publicou um Relatório de um estudo (Understanding What Shapes Child Well-being in Rich Countrie - UNICEF2020) sobre o que molda e influência o bem-estar das crianças nos países mais “ricos”, no qual Portugal se inclui. SIM, não nos esqueçamos que vivemos num jardim à beira-mar plantado neste cantinho do continente europeu, um dos melhores locais do mundo para se nascer e viver.

Neste relatório são analisados vários fatores que podem proporcionar uma BOA INFÂNCIA e são apresentadas diversas conclusões interessantes em relação aos níveis de FELICIDADE, SATISFAÇÃO E BEM-ESTAR das crianças e jovens de 41 países da OECD e da União Europeia.

Por curiosidade, no âmbito deste estudo publicado pela UNICEF, em setembro de 2020, as crianças mais felizes do mundo são as holandesas.

As condições necessárias e mais intrínsecas à própria criança para que esta tenha uma boa infância passam pela boa saúde mental e física, bem como pela aquisição de boas habilidades para a vida. Porém, mesmo em países desenvolvidos/ricos, estes dados se revelaram longe do ideal.

De um modo geral, em 12 dos 41 países analisados, menos de 75% das crianças de 15 anos revela ter uma alta satisfação com a vida. O suicídio é uma das causas mais comuns de morte para adolescentes de 15 a 19 anos. E em 10 países, mais de uma em cada três crianças, está acima do peso ou é obesa.

Uma grande virtude deste relatório é a criação de um modelo de bem-estar infantil que se expande para além dos fatores internos da criança (como a saúde física, a saúde mental e as habilidades para a vida), considerando também inúmeros fatores de contexto, num modelo com várias dimensões que mantem a criança ao centro da sua realidade. Partindo da criança para o exterior, foram consideradas as seguintes dimensões:

  1. RESULTADOS – saúde mental e física, e habilidades.
  2. ATIVIDADES – atividades complementares e uso de internet.
  3. RELACIONAMENTOS – família, amigos e colegas de escola.
  4. REDES – relação dos pais com escola, comunidade e trabalho.
  5. RECURSOS – recursos de casa e da vizinhança.
  6. POLÍTICAS – familiares, de educação e de saúde.
  7. CONTEXTO– economia, sociedade e ambiente.

Como conclusão, o raking dos países com as crianças mais felizes do mundo é o seguinte:

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Alguns dados referentes a Portugal:

  • Aos 15 anos, a alta-satisfação com a vida situa-se nos 78% (12ª posição).
  • Entre os 5 e os 19 anos, 33% da população está acima do peso ou é obesa (30ª posição).
  • Entre os 15 e os 19 anos a percentagem de suicídio coloca-nos na 40ª posição (e ainda bem!).
  • Aos 15 anos as habilidades de leitura e matemática apresentam um valor de 63% de proficiência (apenas!), o que nos coloca na 24ª posição.
  • Aos 15 anos a confiança para fazer amizades está avaliada nos 76% (18ªposição)
  • A visão dos pais sobre a sua relação com as escolas dos filhos é 7,3 (numa escala de 0 a 10), o que nos coloca na 25ª posição.
  • Na visão dos alunos sobre a sua participação nas decisões em casa e na escola, Portugal não aparece nas primeiras 16 posições (a Espanha/Catalunha é referenciada no 1º lugar).
  • A relação da imagem corporal com o nível de satisfação com a vida está presente em 46% da população jovem (21ª posição), sendo que esta percentagem afeta o dobro das raparigas em relação aos rapazes.
  • Finalmente, em relação às condições nacionais (politicas e de contexto) para o bem-estar das crianças e jovens portugueses, ocupamos a 22ª posição da tabela.

 

As crianças não são o futuro. As crianças são o presente.

O futuro é dos adultos. E os adultos somos nós!

Não há tempo a perder. A diferença faz-se hoje.

Cada dia conta. Cada dia é menos um dia de criança para cada criança!

 

Para saber mais aceda ao relatório completo neste link:

https://www.unicef.nl/files/Report%20Card%2016%20UNICEF_3%20sept_2020.pdf

 

 

29
Jan21

Talentos e Pontos Fortes

Educação e Juventude

Sabias que apenas 20% das pessoas usam os seus pontos fortes e as suas próprias forças … de forma consciente e a seu favor, todos os dias?

Levamos uma vida à procura da nossa melhor versão, na busca "daquela" solução ... mas já Aristóteles dizia que para aumentar o nosso nível de felicidade temos de ser quem nascemos para ser!

Quando não utilizamos os nossos pontos fortes ou as nossas melhores forças no dia-a-dia, temos uma maior tendência para nos sentirmos menos capazes, mais enfraquecidos e mais desvigorados.

Contrariamente aquilo que o senso comum aponta, de que devemos desenvolver os nossos pontos fracos para ficarmos com as nossas capacidades mais “equilibradas” … alguns autores defendem que o nosso maior potencial de crescimento está nas áreas onde temos os nossos pontos fortes.

Ao elevarmos aquilo em que somos “bons” para um nível “excelente” temos mais probabilidade de nos sentirmos felizes e realizados e dessa forma nos sentirmos motivados e autoconfiantes para melhorar também as nossas áreas mais fracas. Pelo contrário, insistir em desenvolver aquilo em que não somos bons pode-nos levar a desenvolver crenças de autodesvalorização e de inferioridade que podem marcar uma vida inteira.

Todos somos génios. Mas se julgarmos um peixe pela sua capacidade de subir a uma árvore, ele vai levar a vida toda a acreditar que é estúpido  -  Einstein

Por isso, se desde criança, se identificarem os nossos talentos, se se investirem neles e se se tirarem deles o maior rendimento … certamente conseguiremos para a nossa vida uma qualidade acrescida. Educar as crianças valorizando, vivenciando, investindo e transformando os seus talentos em pontos fortes, não só materializa o respeito e a valorização da diferença interpessoal, como tirará significativas mais-valias dessas mesmas diferenças! Olhar a diferença como um valor acrescentado será certamente um maravilhosa oportunidade de crescimento e satisfação pessoal.

Não precisamos ser todos iguais. De outro modo, todos precisamos libertar o nosso maior potencial fazendo aquilo que sabemos fazer melhor e que adoramos fazer. O mundo agradece!

Os talentos são habilidades inatas, permanentes e únicas, que nascem connosco. Fazem parte do nosso potencial e que podem ou não ser expressos e incrementados através de conhecimentos e técnicas que os transformem em verdadeiros pontos fortes. As pessoas que usam os seus pontos fortes têm três vezes mais probabilidade de alcançar um excelente bem-estar e uma ótima qualidade de vida!

Ajudar as crianças e jovens a desenvolverem os seus talentos e pontos fortes é essencial para que estes venham a ter no futuro uma vida mais útil, produtiva e feliz!

Primeiro passo: começa por ti e confere quais são os teus talentos (e são tantos … alguns são certamente os teus!). Em jeito de check list:

  • ADAPTABILIDADE – capacidade de viver o momento, flexibilidade
  • ANALÍTICO – questionador, lógico, rigoroso
  • ATIVAÇÃO – rapidez, agir antes de pensar, executor
  • AUTOAFIRMAÇÃO – seguro, autoconfiante, capaz, assertivo, autónomo
  • CARISMA – curiosidade, interesse pelos outros, gosta de se relacionar, comunicador, liderança
  • COMANDO – opinioso, confrontador, decidido, líder, defensor da sua verdade
  • COMPETIÇÃO – compara-se para melhorar e vencer, foge do fracasso/derrota
  • COMUNICAÇÃO – boa expressão escrita e oral, inspirador e contador de histórias
  • CONEXÃO – constrói pontes entre pessoas, tem valores ligados ao bem comum
  • CONTEXTO – olha o passado para compreender o presente e decidir
  • CRENÇA – com valores essenciais duradouros, é confiável, ético e moral
  • DESENVOLVIMENTO – percebe e estimula o potencial das outras pessoas, busca um crescimento continuo
  • DISCIPLINA – cria rotinas e planos para se sentir seguro e controlar a situação, perfecionista
  • EMPATIA – coloca-se no lugar do outro e compreende o porquê das escolhas de cada um, comunica de forma assertiva
  • ESTUDIOSO – procura novas aprendizagens e conhecimentos
  • EXCELÊNCIA – perfecionista, desenvolve os seus pontos fortes até à excelência
  • FOCO – foca-se num propósito de vida e traça planos para lá chegar, líder e inspirador
  • FUTURISTA – visualiza o futuro e partilha essa visão com os outros
  • HARMONIA – procura entendimentos, evita o conflito, colocando os outros primeiro
  • IDEALISTA – criativo e original, é fascinado por ideias, associando-as numa cadeia lógica
  • IMPARCIALIDADE – justo e igualitário, defensor da justiça e da equanimidade
  • INCLUSÃO – inclui tudo e todos, sem diferenciação
  • INDIVIDUALIZAÇÃO – é bom observador de pontos fortes tirando o melhor de cada um, acredita que somos todos diferentes, únicos e especiais, não gosta de generalizações
  • IMPUT – grande curiosidade, quer saber tudo sobre tudo, colecionador/acumulador
  • INTELECTUAL – pensador, gosta de resolver problemas, socialmente isolado, introvertido
  • ORGANIZAÇÃO – controlador, prático, perfecionista, não gosta de caos
  • PENSAMENTO ESTRATÉGICO – abre caminhos, avalia obstáculos e seleciona a melhor opção
  • POSITIVISMO – sorridente, elogiador, encontra sempre o lado positivo da situação, bom humor
  • PRUDÊNCIA – cuidadoso, vigilante, reservado, antecipa perigos e planeia com rigor
  • REALIZAÇÃO – NO STOP, está sempre em ação, em concretização
  • RELACIONAMENTOS – procura proximidade interpessoal, profundidade e intimidade relacional, é sincero e verdadeiro nas relações
  • RESPONSABILIDADE – confiável e disponível para os outros, assume responsabilidade por tudo o que se envolve, não perdoa as suas próprias falhas
  • RESTAURAÇÃO – encontra soluções e resolve problemas, torna o mundo mais perfeito
  • SIGNIFICÂNCIA – necessita do reconhecimento, aprovação e valorização alheia, independente, gosta de fazer as coisas à sua maneira, quer ser excecional.

A combinação de diversos talentos associados ao desenvolvimento de técnicas e conhecimentos específicos, constituem os nossos pontos fortes, especiais e únicos, os quais nos caraterizam e … nos acrescentam valor, e também ... e sobretudo, acrescentam valor ao mundo!

Quais são os teus talentos?

Quais são os talentos do teu filho/a? Do teu aluno/a?

Como é que o mundo pode beneficiar ainda mais dos teus talentos?

Como podes ajudar o teu filho/a ou o teu aluno/a a identificar e a valorizar os seus talentos, de forma a que se sinta motivado para investir na sua transformação num verdadeiro ponto forte?

Fonte: ICIJ – Método GrowCoaching

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19
Mai19

Libertem as Crianças

Criança Interior

As crianças de hoje brincam pouco, estão demasiado ocupadas com atividades orientadas por adultos, nem têm espaço e tempo para explorar o mundo, para perceber limites, para imaginar e criar, para lidar com a imprevisibilidade das coisas, para empreender os seus desejos e para, muito possivelmente, se frustrar. Vivem aprisionadas entre muros e redes, ligadas à tecnologia virtual, longe da vida real.       A vida das crianças de hoje já vem processada, não é “natural”! As crianças de hoje têm tudo, mas afinal, falta-lhes tanto!

Perante esta reflexão, revejo o que fiz eu pelos meus dois filhos, hoje trintões, e sinto que estou hoje melhor preparada para fazer boas escolhas educativas no que diz respeito ao impacto que as ações dos pais podem ter no desenvolvimento saudável duma criança. E penso, que se tiver essa oportunidade, será diferente com os meus netos …

E aí … aí percebo que eu mesma tenho uma criança dentro de mim. Alguém que também espera pela minha atenção e cuidado. Alguém que continua aprisionada. Alguém que me chama, mas que eu não escuto. Alguém que sabe as respostas às minhas perguntas. Alguém que clama por amor e compreensão. Alguém que eu abandonei à sua sorte no fundo de mim … Será que a vou deixar assim?

Foi então que percebi. Todos nós temos uma criança aprisionada dentro de nós, que ainda espera e clama por atenção, cuidado, amor, segurança … Como seria se libertássemos as nossas crianças? Aquelas que são mesmo nós, e que silenciosamente, condicionam as nossas escolhas todos os dias. Como seria se nós, adultos, libertássemos a nossa criança interior? Talvez os nossos filhos se sentissem autorizados a fazer o mesmo … talvez. Talvez olhássemos para as crianças de hoje e perdêssemos o terrível medo de as deixar brincar livremente, de as deixar ser crianças! Talvez devêssemos começar por nós … talvez!

Hoje percebi … que os bloqueios que sinto, as amarras que me prendem, estão lá atrás, na criança que não foi cuidada e amada como esperava. Hoje percebi que não me vou conseguir libertar e seguir a vida que busco, sem resgatar a minha querida e pequenina Anita. Preciso trazê-la de novo à vida, preciso que ela me acompanhe em tudo o que faço e vivo, preciso da sua força de vida, da sua alegria, da sua energia, da sua inocência de criança, da sua confiança infinita de que tudo está bem. Hoje percebi que amar-me a mim mesma passa primeiro por dar a essa Anita tudo o que ela merece – amor, aceitação, reconhecimento, motivação segurança, apoio, fé, paz, luz … hoje percebi que as minhas necessidades mais profundas estão enraizadas nas necessidades da minha criança interior e que só nutrindo a minha criança interior me nutrirei a mim mesma. Ups … hoje percebi que é muito mais difícil ir a algum lado sem dar vida à minha Anita!

Assim, minha querida Anita, hoje falo para TI. Cresci, fiz-me mulher, esposa, mãe … e esqueci-me de ti. Hoje sei, sinto e compreendo que vives aprisionada dentro de mim. Hoje sei, sinto e compreendo as tuas dores e sofrimento, que durante tanto tempo não percebi. Sei, sinto e compreendo que és uma parte muito importante de mim. Anita, hoje, perante ti, reconheço-te e abraço-te, olho-te e digo do fundo do coração: 

Sinto muito por todo o teu sentimento de solidão, abandono, insegurança, desamor e incompreensão. Sinto muito por todo o teu sofrimento e aperto emocional. Sinto muito também por todo o tempo em que não te cuidei nem te protegi. Hoje vejo-te e compreendo o que então não vi nem compreendi.

Por favor perdoa-me por não te ter cuidado, compreendido, reconhecido, mimado, amado. Eu não tinha consciência disso, mas hoje tenho ... hoje sei, sinto e compreendo. Hoje vejo-te assim, pequenina dentro de mim.

Hoje vejo-te e amo-te. Amo cada parte de ti. Amo cada parte de ti ... em mim.

Hoje eu vejo-te e agradeço tudo o que fizeste por mim. Agradeço a tua força, a tua coragem, a tua resiliência, a tua determinação e persistência, a tua luz, o teu amor … e também a tua fragilidade, a tua sinceridade e inocência de criança. Agradeço-te toda esta maravilhosa energia que brota de mim.

Amo-te, admiro-te profundamente, acredito e tenho muito orgulho em ti, és mais do que suficiente para tudo o que desejares. Tu és capaz, nunca duvides disso! Estamos seguras e apoiadas. Amo-te tal como és, linda e brilhante, simplesmente fantástica. Quero-te sempre muito presente em mim. De mãos dadas e unidas numa só … brilharemos, brincaremos, sorriremos, abraçaremos e celebraremos … a magnificência da vida.

E é assim que as nossas crianças vão vivendo prisioneiras dos nossos medos, uns mais conscientes outros menos, mas todas as crianças, com direito a serem e se sentirem pessoas inteiras e felizes!

 

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