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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

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28
Ago21

Ser ou não ser o Exemplo, não é a questão

Educação

Quem estiver atento apercebe-se que as crianças de hoje nascem com um outro “software”. Sei … é difícil perceber a ilha quando se está dentro dela. Mas parem um pouco e observem sem pré-julgamento os bebés que nos chegam aos braços. No que são diferentes dos bebés que fomos ou, para os mais velhos, no que são diferentes dos nossos filhos, hoje, já pais também? Algo mudou. Algo, na sua forma de percecionar o mundo está diferente. Os pequenos seres parecem mais atentos, mais percetivos e perspicazes, mais desenvoltos … questiono-me o que diria Piaget sobre o desenvolvimento infantil nos dias de hoje.

Se acrescentarmos a este facto a grande velocidade a que a vida hoje se desenrola, ao elevado nível de estimulação sensorial a que as crianças estão sujeitas desde que nascem e o grande número de solicitações a que os pais têm de responder no seu dia-a-dia, facilmente encontramos o resultado da equação: andamos todos (não só as crianças) hiperativos e desconectados uns dos outros.

E neste ambiente de correria é fácil perceber que aquilo que mais captamos e retemos são as sensações e experiências que vivemos, não as palavras que ouvimos ou até dizemos.

As crianças estão a nascer com uma enorme capacidade percetiva da realidade à sua volta. O cérebro infantil e adolescente, desde o nascimento tem o seu sistema emocional totalmente desenvolvido e consegue, através de linguagem não-verbal dos pais (atitudes, tom de voz, expressão facial, olhares, estado emocional, etc), captar a “mensagem escondida” por trás daquilo que é dito. Até porque o neocórtex, responsável pela sua capacidade cognitiva e executiva, está ainda em desenvolvimento até ao final da adolescência (21 anos). É assim que, a neurociência nos diz que as crianças e jovens seguirão os exemplos dos seus adultos de referência (pais, familiares, tutores, professores, educadores, etc.) e não apenas as suas palavras ou os seus conselhos. Numa sociedade em que direitos e deveres muitas vezes se confundem, é natural que as crianças também se baralhem e acabem por não entender racionalmente e com clareza os princípios, valores e limites que estão na nossa cabeça.

Costumo dizer que, atualmente, ser um educador consciente e positivo é um desafio imenso e complicado, mas será também dos mais gratificantes. Sim, sabemos que ser pai é uma missão para toda a vida e que não é mesmo nada fácil ser um pai do século XXI. Os pais são o principal ponto de referência ou o exemplo com maior influência na vida dos filhos, e atendendo às características das gerações atuais, constatamos que esse impacto e presença se torna cada vez mais determinante. Não está fácil!

Todos já fomos filhos e todos sentimos o impacto que a ação e o exemplo dos nossos pais teve em nós. Também sabemos bem o tempo e o esforço que empregámos para, mais tarde, nos libertarmos de velhas crenças e padrões que já não nos são úteis ou que até nos limitam, e optarmos de forma consciente e deliberada por aquilo que queremos acreditar e viver. Se queremos isso para os nossos filhos? Claro que não.

Ter esta consciência ativa afeta diretamente o modo como exercemos a nossa função educativa, pois estamos cientes de que, como pais e educadores, quando os nossos atos não estão alinhados com as nossas palavras, a linguagem mais forte e mais facilmente captada pelas crianças e jovens, não é a das nossas palavras, mas a do nosso exemplo. Não obstante, tendemos a esquecer-nos deste “pormaior” e acabamos por nos queixar que “Ele não faz nada daquilo que eu digo!” ou “Ela é muito crítica e muitas vezes ainda põe em causa aquilo que digo.”

As crianças já nascem “antenadas”, ou seja, parece que têm antenas que captam as nossas “mensagens escondidas” com extrema facilidade. Podem parecer aparentemente desligadas, mas tomam atenção a tudo o que dizemos e fazemos, e sobretudo, apercebem-se muito bem quando aquilo que dizemos não se encaixa naquilo que fazemos. E quando assim é, junto dos nossos filhos ou alunos, aquilo que dizemos perde muito valor e importância, perdemos credibilidade e poder de influência. E nada é mais inconsequente que um bom conselho acompanhado de um mau exemplo.

Porém e pelo contrário, se existir coerência entre aquilo que se diz e se faz, a mensagem que pretendemos passar chegará ao cérebro emocional e cognitivo da criança ou do jovem de forma integrada e reforçada. Ganharemos o seu respeito e admiração, passaremos a ser a verdadeira referência positiva nas suas escolhas e das suas opções diárias, e consequentemente seremos reais influenciadores da formação da sua personalidade.

Mas não nos enganemos. Se não assumirmos esse lugar de liderança positiva, coerente e influenciadora na educação dos nossos filhos e alunos, alguém ou algo ocupará esse lugar e desempenhará esse papel. A crianças e os jovens não aprendem com quem mais sabe, mas com quem se ligar e conectar melhor com elas! Deverá ser essa a primeira conquista do educador – conseguir captar a atenção da criança através dum EXEMPLO COERENTE E INTEGRADO.

Como educar pelo exemplo?

Cuidar das rotinas diárias, explicando de forma clara e concreta as regras da casa, bem como agindo em conformidade com essas regras – tanto quanto possível, as regras deverão ser as mesmas para toda a família! Por exemplo, se “não há telemóveis em casa a partir da hora do jantar”, esta regra é para ser cumprida por todos. Partir do princípio de que as necessidades do adulto são mais importantes que as necessidades das crianças é começar mal e pode levar a criança a não perceber a diferença entre aquilo que deseja e aquilo que é o melhor para todos lá em casa.

Cuidar da comunicação, certificando-se que o que diz é mesmo entendido pela criança, olhando no olho, cuidando do tom de voz, estando verdadeiramente na presença da criança quando fala com ela, não fazendo ameaças que não poderá cumprir e cumprindo cuidadosamente aquilo que afirma. E sobretudo, lembrando-se que a comunicação não-verbal fala mais do que aquilo que se diz.

Os nossos filhos e alunos não precisam de pais ou professores perfeitos. Até ao último dia, a vida é uma aprendizagem constante. Por isso, permitir-nos errar e admitir esses erros como oportunidades de melhoria perante os nossos filhos/alunos, é essencial para lhes dar o exemplo e lhes ensinar que, na vida, há sempre espaço para falhar, humildemente corrigir ou tentar de novo, pedir desculpa se necessário e crescer com a experiência.

A opção de não educar pelo exemplo não existe. Não ser o exemplo não é a questão. Para o bem ou para o mal será sempre assim. Até porque se não o fizermos ou dissermos, as crianças e jovens vão perceber na mesma o que se passa, e pior, vão perceber o que não dissemos ou fizemos ou deixámos de fazer. Neste caso, apenas podemos escolher entre “ficar melhor ou pior na fotografia”.

As crianças e jovens dos dias de hoje podem não ouvir os nossos conselhos, mas veem de olhos bem abertos os nossos exemplos e precisam mais do que qualquer geração anterior, duma presença efetiva, conectada e coerente dos pais e educadores.

E esse é o grande paradoxo da educação dos dias de hoje – enquanto temos acesso a mais tecnologia e a melhores condições de vida, a vida acelera nas solicitações profissionais e na permanente “falta de tempo”; simultaneamente as crianças necessitam cada vez mais da presença, exemplo e intervenção do adulto para as ajudar na aquisição dum equilíbrio entre emoção e razão que lhes permita um crescimento mais harmonioso e feliz. Não é fácil, mas é possível e sobretudo gratificante.

Dar o exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros – é a única.”

 Albert Schweitzer

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