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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

23
Abr22

Ensinar a Pensar (III)

Educação

Na sequência dos posts anteriores, Ensinar a Pensar (I) e Ensinar a Pensar (II) vamos hoje avançar para uma abordagem prática dirigida aos adolescentes.

Aprender a pensar é um processo de desenvolvimento que se adquire de forma progressiva ao longo dos anos. Exigir aos nossos jovens que o façam eficazmente quando, em criança, lhes resolvemos todos os seus pequenos desafios de criança, é esperar colher batatas quando plantámos cebolas. Quando são pequenos é-nos mais fácil e ligeiro dizer-lhes o que fazer, dar-lhes sugestões e indicar-lhes as soluções. Apesar de ser mais rápido e prático, ao fazê-lo, estamos a impedir os nossos filhos e alunos a desenvolverem a habilidade de observarem e sentirem os acontecimentos da sua vida, de refletirem sobre a situação, de tomarem decisões e resolverem os seus dilemas diários. Ou seja, desejamos que eles sejam independentes, mas não investimos seriamente nos alicerces da construção dessa autonomia.

Perguntam, mas pensar não é uma capacidade natural? Sim e não. Sim porque somos seres racionais. Não porque nascemos com o cérebro reptiliano (instintivo) e límbico (emocional) desenvolvido, mas com o neocórtex (racional) em desenvolvimento até ao final da adolescência, idade que se situa cada vez para lá dos 20 anos (parece que nos esquecemos vezes demais deste facto). As crianças e os jovens não têm apurada a capacidade de pensar criticamente sobre as suas próprias vivências, e por isso, não podemos esperar que o façam, simplesmente porque o seu “software” ainda não está pronto.

E a melhor forma de fazer, sem dar sugestões ou soluções, é fazendo BOAS PERGUNTAS, plenas de interesse e curiosidade. Aqui ficam 8 PASSOS para ajudar os jovens a pensar sobre a sua vida e as suas opções:

1) Esclarecer com o jovem qual é seu o objetivo (desejo).

      Exemplos: Para ti, o que é realmente muito importante atingires na vida? O que realmente queres ou desejas? Porque é que isso é importante para ti? Acreditando que tens todas as capacidades e competências, o que queres ter no lugar do que tens agora? Num mundo onde tudo é possível o que queres ter/ser?

2) Perguntar quais as formas ou caminhos que ele vê como possíveis para alcançar o seu objetivo. Fazer uma lista de todas as ideias – tudo é possível!

       Exemplos: Como pensas fazer isso? O que é importante garantir ou fazer para alcançares o teu objetivo? Que competências ou habilidades, se desenvolveres te podem ajudar no teu objetivo? Como podes fazer? Que outras formas serão possíveis? Quais funcionarão melhor neste caso?

3) Perguntar aos colegas, amigos ou pessoas que ele admira, como resolveram ou resolveriam a questão. Fazer uma lista de todas as ideias, sem eliminar nenhuma.

       Exemplos: Conheces alguém que tenha vivido e resolvido este tipo de situação? Que soluções os teus amigos encontraram? Como fizeram? E como é que essas pessoas que consideras “capazes” fariam?

4) Depois de identificadas todas as opções, fazer uma triagem de alternativas e perguntar que caminho quer seguir.

        Exemplo: Perante estas possibilidades o que acreditas que se encaixa melhor em ti/na situação? O que sentes que será melhor para ti? Que desafios poderão surgir ao seguires este ou aquele caminho? Qual queres escolher?

5) Decidido o caminho, perguntar quais são os recursos necessários e que pessoas poderão estar envolvidas (pessoas, materiais, equipamentos, conhecimentos, iniciativas, atitudes, ações).

        Exemplo: Vamos fazer uma pequena lista de que irás precisar para realizar/resolver a situação.

6) Perguntar que riscos e possíveis problemas podem surgir nesse caminho

        Exemplo: Existem obstáculos para lá chegar? Vamos fazer um exercício sobre possíveis problemas que poderás ter de enfrentar …

7) Elaborar um Plano de Ação para eliminar ou minimizar riscos

        Exemplo: O que podes fazer para eliminar esse risco? E este …?

8) Identificar indicadores ou evidências que comprovarão que conseguiu alcançar o objetivo

        Exemplo: Que evidências/provas terás que te dizem que alcançaste/resolveste o problema/situação? O que precisa acontecer para te olhares ao espelho e dizeres: Resolvi!

 

Se queremos criar cidadãos que pensam pela sua própria cabeça, que vão atrás dos seus objetivos e encontram a sua própria solução, precisamos de aprender a AJUDAR AS NOSSAS CRIANÇAS E JOVENS A PENSAR. Neste mundo tecnológico é cada vez mais indispensável criar condições para as nossas crianças e jovens aprenderem a gerir emoções e a pensarem de um modo crítico ... se assim não for, acabaremos por ser instrumentados ... e não quem usa e controla o instrumento!

Mais do que proteger, facilitar e preparar o caminho para as crianças e jovens, temos de mudar o foco, ser mais empáticos e descobrir como poderemos preparar os nossos jovens para o caminho a seguir, seja ele qual for!!

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Fonte: TeenCoaching/ICIJ

 

10
Abr22

Aprender ou não aprender (II)

Educação

Ainda na sequência do que escrevi no post anterior, Aprender ou não aprender (I), sobre AQUILO QUE GOSTARIA DE TER APRENDIDO NA ESCOLA ou daquilo que me parece que seria útil que a escola ensinasse … tenho algo mais que me parece oportuno partilhar …

Ninguém dúvida: a nossa mentalidade, o nosso modo de ver o mundo, os nossos valores, as nossas crenças e convicções são-nos instaladas desde a mais tenra idade. Em casa, na escola, na televisão, na internet … na sociedade. Sem darmos por isso somos “programados” para pensar de determinada forma, para acreditar em determinados princípios e para não contestar o modus operandi à nossa volta. Sejamos sinceros – é essa a principal função da educação e a principal (e legítima) preocupação parental – criar e formar cidadãos inseridos, adaptados e úteis à sociedade.

Por isso, muito daquilo que hoje somos resulta das nossas vivências infantis e juvenis. É natural, é mesmo assim. Nascemos com o “hardware” pronto, mas o “software” vai sendo instalado e reinstalado ao longo de toda a nossa vida. Como é que isso acontece? Através da mediação humana e desde o nascimento. Neste processo a interação pessoal é essencial.

E se assim é, como seria, se em vez de desvalorizarmos sentimentos (“Isso já passa!”), de apontarmos erros (“Isso não se faz!”), de atribuirmos culpas (“Estou farta de te dizer sempre a mesma coisa!”), de punirmos ou castigarmos (“Ficas sem telemóvel para pensares no que fizeste!”) … nos atrevêssemos a quebrar o padrão educativo e, desde cedo, instalássemos CRENÇAS POSITIVAS no “software mental” das nossas crianças?

Como teria sido a nossa vida, se em criança nos tivessem sido transmitidas premissas e convicções que nos permitissem acreditar que temos em nós todos os recursos que precisamos para criar a vida que desejamos viver?

Sabendo que pensamento gera comportamento, como seria se a escola/família valorizasse o ensino das denominadas as soft skills (competências pessoais e interpessoais), a partir da transmissão e reforço ativo e coerente dos seguintes PENSAMENTOS POSITIVOS:

  • EU SOU CAPAZ - Sou “capaz de” de ver, fazer, ser … com clareza, estratégia e persistência.
  • EU SOU IMPORTANTE! EU PERTENÇO A … Eu colaboro e contribuo mais quando me sinto parte de … e quando sinto que sou envolvido e verdadeiramente escutado.
  • EU TENHO O PODER! EU POSSO … é fazendo que aprendo a fazer e sobretudo a ser. Quando decido e aplico o que decidi, aprendo cada vez mais a resolver problemas.
  • Eu consigo. Eu sou suficiente – é a base da minha autoconfiança e autoestima. Um passo de cada vez e está tudo bem. Hoje sou melhor que ontem e por isso, o meu melhor é sempre mais um passo no caminho.
  • Tenho sempre escolha – opto por tudo aquilo que for melhor para mim e aumentar as minhas possibilidades.
  • Tenho o poder de mudar a realidade - a realidade muda quando olho de outro ponto de vista e quando mudo a minha atitude perante a situação.
  • Tenho o poder de criar a minha própria realidade - posso escolher o que pensar e os meus pensamentos irão criar os meus resultados.
    Por ação ou por inação, todos somos criadores da nossa própria realidade.
  • Foco-me sempre no que quero realizar – e não no que não quero, porque irei receber de volta aquilo em que me focar.
  • Estabeleço prioridades e faço escolhas intencionais - Princípio de Pareto - 80% dos resultados que consigo vêm apenas de 20% das minhas atividades. Aplico o meu tempo naquilo que tiver um maior retorno positivo para mim.
  • Todas as experiências trazem oportunidades - existe sempre uma oportunidade de crescimento por trás de cada obstáculo ou contrariedade. Procuro sempre a bênção escondida de cada desafio!
  • Erros são oportunidades de aprendizagem – o erro é uma mensagem que indica e orienta o caminho. Os falhanços podem conter excelentes aprendizagens. Não desistir, apesar de erros e falhas, é o mais importante.  Os erros dizem-me:  Não é por aí! Não desistas. Estás cada vez mais perto.
  • Opinião é interpretação - As nossas palavras são somente representações dos acontecimentos ou das situações que descrevemos – não são a realidade/verdade em si. O mapa não é o território!!
  • Não levo as coisas demasiado a sério – 80 a 90% das minhas preocupações e receios nunca se irão concretizar. Ups!! 
  • As pessoas não são o seu comportamento - lido com o seu comportamento e aceito a pessoa por trás do comportamento. Não levo a peito ofensas porque os comportamentos são passageiros e as pessoas são permanentes!
  • O medo é meu aliado – o medo avisa-me e prepara-me para algo importante que vai acontecer, mas não me deve bloquear! Presto mais atenção aos detalhes, preparo-me ainda melhor e avanço com coragem!
  • Não me comparo com os outros - a comparação com os outros conduz à insatisfação. Só a comparação comigo mesmo, de onde vim, o que já consegui e como cresci … me dará poder pessoal, motivação e tranquilidade. Eu não tenho comparação!!
  • As pessoas têm todos os recursos de que necessitam para ter sucesso - não há pessoas sem recursos, há pessoas que não sabem ou conseguem usar os seus recursos pessoais. Descubro as minhas próprias qualidades escondidas e uso-as como sendo únicas e especiais.
  • Todo o comportamento tem uma intenção positiva – a intenção é sempre boa, mas o comportamento pode ser desajustado.
    Mantenho a intenção e adapto o meu comportamento para obter o resultado que desejo.
  • Juntos somos mais fortes - Não chegamos a lado nenhum sozinhos: Somos seres sociais e o verdadeiro sucesso está no trabalho em equipa. Ninguém ganha sozinho! Eu ganho porque tu ganhas (e não porque tu perdes). Sozinhos podemos ir mais rápido. Juntos vamos mais longe!
  • A empatia faz magia – não há comunicação sem conexão. Todos temos muito a prender uns com os outros. Aproximo-me, olho as pessoas nos olhos e escuto com genuína curiosidade e interesse.
  • Não reajas, age – não espero, assumo a liderança, tenho a iniciativa, sou pró-ativo na busca daquilo que quero, ajusto a situação com a minha própria ação. Dou primeiro, recebo depois. Não espero que escolham ou façam por mim, senão vou (des)esperar.
  • As coisas são como são – não é o que me acontece que me define, mas aquilo que faço com aquilo que me acontece. Sem resignação e com determinação, o que posso/vou fazer com isso?
  • A gratidão é contagiosa – facilita-me o foco nas coisas positivas da vida e atrai para mim estados de confiança e felicidade.

 

Estes 23 poderosos ensinamentos ter-nos-iam dado jeito se tivessem sido instalados no nosso “software” desde criança. Estaríamos hoje mais bem apetrechados no que diz respeito às nossas Soft skills e certamente estaríamos mais bem preparados para os desafios que a vida nos trouxe.

Não basta desvalorizar as crenças limitadoras das crianças ou dizer-lhes que são capazes ou que são importantes. É imprescindível cuidar da coerência entre palavras e atos, bem como preencher o espaço com pensamentos positivos. Serve-te deste “Menu de Pensamentos Positivos”, escolhe um … e começa por aí. Começa por aquele que se adequar melhor às caraterísticas de personalidade do teu filho/aluno e instala-o com amor, persistência e paciência.

Fica, no entanto, uma advertência. Os pequenos só irão acreditar se tu mesmo acreditares. Não chega dizer. Diria mesmo, não chega acreditar. É preciso fazer. É preciso sentir, praticar, dar o exemplo, vivenciar. Só assim o download será bem-sucedido!!

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27
Mar22

Ensinar a Pensar (II)

Educação

Na sequência do post anterior, Ensinar a Pensar (I) vamos hoje avançar para uma abordagem prática de como ajudar mais os jovens a pensar antes de agir.

As crianças e jovens de hoje estão naturalmente sujeitos a uma sobre-estimulação sensorial, resultante da rapidez, fácil acessibilidade, grande quantidade de informação e de objetos estimulantes ao seu dispor. Esta sobrecarga tende a desenvolver nas crianças o “Síndrome do Pensamento Acelerado” (A. Cury), o que os torna mais impulsivos e lhes diminui significativamente a capacidade de “parar para pensar”.

É urgente que os adultos desempenhem um papel de reforço das capacidades reflexivas da criança e que a orientem  através de um passo-a-passo, rumo a uma clareza de possibilidades e a uma escolha consciente e positiva, para si e para quem está à sua volta. É essencial e indispensável que façamos este trabalho com os nossos filhos ou alunos, pois, para a atual geração, a presença e ação positiva, confiante e tranquila do educador, tornou-se num importante fator de desenvolvimento e de saúde mental.

A metodologia do SEMÁFORO DO PENSAMENTO oferece uma visualização da estrutura desse processo, permitindo a adultos e crianças/jovens, seguirem um caminho autónomo de resolução de problemas, que irá reforçar a aptidão dos mais novos para pensarem de modo crítico e refletirem sobre as situações do seu quotidiano, bem como para se sentirem mais seguros e confiantes nas suas próprias capacidades.

De um modo prático o SEMÁFORO DO PENSAMENTO passa pelas seguintes etapas:

1 - VERMELHO – PARAR contrariando a impulsividade, parar observar, ver, escutar, ler, sentir aquilo que está a acontecer dentro de mim e à minha volta.

2 - AMARELO – PENSAR, refletir e decidir, procurando e identificando possibilidades/alternativas de saída da situação, prevendo consequências e escolhendo a melhor opção para mim, tendo também em consideração as necessidades alheias. Numa segunda etapa de desenvolvimento deste pensamento de resolução de problemas, poderá ser também oportuno introduzir a identificação de padrões que se repitam, a decomposição de grandes problemas em pequenos passos, bem como evidenciar as vantagens da construção de PLANOS DE AÇÃO, adiando a recompensa para mais tarde.

3 – VERDE – AGIR de forma articulada com aquilo que se decidiu, fazer, desenhar, escrever, falar, jogar, treinar … de forma coerente, persistente e repetida, para que se consiga atingir aquilo que se deseja.

Mas saber teoricamente “como” o semáforo funciona não basta. É preciso procurar, persistir e encontrar situações de TRANSFERÊNCIA para a vida real. Em que situações podes usar o Semáforo do Pensamento na tua vida? Como é o que o Semáforo do pensamento te poderá ser útil?  E depois, aproveitar as circunstâncias do dia-a-dia para o aplicar e assim, proporcionar experiências e  oportunidades da criança ou jovem pensar duma forma refletida sobre os seus próprios desafios.

Levar e conduzir a criança/jovem pacientemente ao longo deste processo é estar a educar para a autonomia, para a autorresponsabilidade e para a liderança de si mesmo. É estar efetivamente a dar-lhe ferramentas facilitadoras da sua autodeterminação e duma gestão emocional positiva.

Porém, tal como a própria metodologia diz, não tem efeitos mágicos. É preciso pegar a criança pela mão e dar-lhe tempo para que ela passe pelas várias “luzes” do semáforo e possa assim APRENDER A PENSAR pela sua própria cabeça. Não adianta apressar, sugerir ou dar a solução. É preciso confiar que a criança ou o jovem tem em si a capacidade de encontrar a melhor solução para si mesmo. Como tudo na vida, requer treino, persistência e aplicação no momento em que surge a situação desafiante.

Mas o meu filho até sabe a teoria, mas depois na prática não se lembra de aplicar o Semáforo!

Ele e nós. O semáforo também serve para nós, adultos. Então, o que nos dificulta tanto a sua aplicação? A emoção! Enquanto estivermos reféns dum estado emocional intenso será difícil parar para pensar (ativar o nosso semáforo). Por isso, o segredo é controlarmos aquele momento em que escolhemos nos afastar, desligar, tirar um tempo …

O segredo é ESCOLHER fazer uma pequena PAUSA que nos permite “sair da ilha para ver a ilha”, ou por outras palavras, nos permitirá uma efetiva gestão emocional. Como? O truque é fazer um time out. Mas como fazer essa pausa funcionar? Com a prática, cada pessoa descobrirá o que funciona melhor consigo … quando há vontade, o caminho aparece!

Educar é ajudar a criança a resolver um problema. Castigar é fazer a criança a sofrer por ter um problema. Para criar SOLUCIONADORES DE PROBLEMAS, é preciso focar na solução e não na retaliação. (L.R.Knost)

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28
Fev22

Comunicar com os filhos de forma positiva e eficaz

Educação

As intenções dos pais são sempre as melhores – ajudar os seus filhos a serem resilientes e a superarem desafios. Acreditamos que se formos duros com eles, eles ficarão mais bem preparados para a dureza da vida. E por isso, não os poupamos a críticas, aos nossos dedos apontados e aos nossos tons austeros e elevados. Naturalmente e de forma quase automática e tantas vezes inconsciente, tendemos a repetir o padrão daquilo que os nossos pais fizeram connosco … se funcionou connosco, certamente irá funcionar com eles também.

Se reativarmos as nossas memórias de infância, facilmente nos lembraremos que quando os adultos criticam uma criança, o que acontece, é que ela não deixa de os amar, mas deixa principalmente de se amar a si mesma. Por se encontrar ainda numa fase autocentrada de desenvolvimento, vira os seus sentimentos contra si própria e a sua autoestima fica seriamente afetada, deixando marcas para a vida adulta (isto não será certamente surpresa para nós, adultos, crianças de outrora, que cresceram a acreditar que não têm valor ou que não são suficientes).

Assistimos hoje a uma geração mergulhada num medo crescente de falhar e de ser criticada – preferem não arriscar, não fazer, deixar em branco, ficar calados, desistir, não tentar … do que correr o risco de serem criticados ou de não corresponderem àquele estereótipo de perfeição que eles próprios idealizam (no caso dos adolescentes, este efeito é exponenciado pela vivência paralela em redes sociais). Tolhidos por um mecanismo de comparação com os elevados padrões da comunicação e dos “mídia”, parecem bloqueados dentro do colete de forças que eles próprios criaram. Com uma pandemia à mistura, de um modo geral, estão a viver profundas dificuldades na gestão das suas emoções, entrando facilmente estados mais ansiosos ou agressivos. Esta geração necessita muito mais do apoio dos adultos do que nós alguma vez precisámos. Como os poderemos ajudar?

Em primeiro lugar, precisamos libertar-nos do nosso inimigo nº1: o nosso crítico interno, que vive em nós desde criança. Sim, já não precisamos dele. Já não somos crianças dependentes dos pais e por isso carentes de amor e aceitação.  Somos adultos, livres e autónomos, conscientes que o nosso autocuidado, autorrespeito e autovalorização interfere diretamente nas nossas relações. Somos por isso responsáveis por quebrar o padrão e não passar aos nossos filhos a mesma energia, limitadora e sabotadora do seu potencial. Só adultos equilibrados podem equilibrar crianças. Por eles e também por nós, precisamos desenvolver estratégias para nos mantermos calmos e equilibrados.

Depois, em segundo lugar, precisamos cuidar da nossa comunicação com as nossas crianças. O que nos leva a levantar o tom, a usar sarcasmo ou cinismo, a apontar o dedo, a recorrer à ameaça e a gritar? A nossa própria frustração de não conseguir controlar a situação. Só que, ao queremos controlar a situação, a criança cresce a aprender que as situações são para dominar e vai querer também controlar as situações da sua vida da mesma forma que fazem consigo. E jogo não pára, a não ser que o adulto pare! Todos podemos ter momentos de descontrolo, mas essa não pode ser a regra nem o princípio. Errámos? Voltamos atrás e recomeçamos. Pedir desculpa e assumir a responsabilidade dos nossos atos será um bom exemplo para que as crianças se permitam também errar (eles precisam tanto desse exemplo) e encontrar soluções mais positivas e benéficas. O foco positivo, o tom e a forma acolhedora da nossa comunicação é essencial, pois neste momento, muitos dos nossos jovens vivenciam um discurso interno bastante autocrítico e limitador.

Por terem o seu cérebro ainda em desenvolvimento, as crianças são muito mais afetadas por uma comunicação crítica e hostil. Sob pressão e ameaça, sentem medo e insegurança, desenvolvem uma maior tendência para a depressão ou para a agressão, e inevitavelmente, terão uma maior propensão para repetir o padrão parental. Assim sendo, o mais provável resultado dos nossos gritos e discussões, será que as crianças vão pensar que gritar é normal, que é a forma como se resolvem problemas e, naturalmente, vão também começar a gritar e a discutir connosco. Com a continuidade, o cérebro irá entrar em modo defensivo, ativar o seu sistema de sobrevivência, tornar-se imune aos gritos, e consequentemente, deixarão de nos ouvir. E aí ficarão entregues ao seu discurso interno, à comparação com padrões exagerados de perfeição e à troca de comentários entre pares, o que certamente lhes proporcionará altos índices de insatisfação e de desmotivação pessoal. 

Em alternativa, COMUNICAR COM OS FILHOS DE UMA FORMA POSITIVA E EFICAZ, pode passar por:

  • Estar num estado emocional calmo, próximo (olho no olho) e conectado com a criança/jovem.
  • Validar sentimentos e reconhecer a importância da situação – “Vejo que estás … / é importante para ti”. 
  • Entregar-se ao momento com tempo, dedicação e seriedade, questionando em tom curioso e empático, sempre focado numa solução positiva. 
  • Cuidar do tom e da forma das palavras – não responder no mesmo tom nem dizer nada que não gostaria de ouvir.
  • Impor limites com afeto e respeito, sem ofender ou humilhar.
  • Dizer o que se quer que a criança faça e não o que não se quer – dar instruções simples, curtas, diretas e positivas.
  • Reduzir o número de sugestões e ordens, oferecendo espaço para alguma liberdade de escolha e decisão.
  • Dizer SIM (não dizer tantas vezes a palavra NÃO), procurando dar alternativas positivas dentro de determinados limites.
  • Repetir sempre que a criança não tenha ouvido ou percebido.
  • Estabelecer regras e acordos, que considerem as necessidades de todos, e confiar no resultado, dando tempo para que o combinado seja cumprido pela criança ou jovem.
  • Avisar previamente que está a chegar o momento de cumprir um acordo ou ação (ex: 5 ou 10’ antes).
  • Elogiar sempre que o combinado é cumprido, valorizando o processo e as qualidades/habilidades passíveis de desenvolvimento, e não outros atributos inatos e imutáveis.
  • Reconhecer e pedir desculpa quando erramos e perdemos a paciência. Dar tempo para que ambos voltem à calma.

Pode parecer muita coisa ao mesmo tempo, mas trata-se de um modo de estar que se vai cultivando a pouco e pouco. Em doses homeopáticas, hoje um pormenor, amanhã mais outro, porque a educação é aquilo que fazemos repetidamente.

Numa altura em que as crianças e os jovens tanto precisam da nossa ajuda, cuidar da nossa comunicação é cuidar da saúde mental e emocional dos nossos filhos, é quebrar o padrão, criar uma relação mais saudável e investir no futuro. Pais que escutam e interagem positivamente com os filhos tendem a ter filhos que, mais tarde, na adolescência também escutam e interagem com os pais.

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20
Jun21

O futuro das nossas crianças somos nós

Educação Positiva

Vivemos um tempo em que é difícil comunicar com as crianças e jovens. Parece que não ouvem os adultos, que a autoridade se desvaneceu, que não ouvem se não se levantar a voz ou sem se impor a mesma regra inúmeras vezes. A mais pequena rotina diária virou uma guerra. E isto acontece demasiadas vezes em casa. Acontece demasiadas vezes na escola.

Onde estamos a falhar com as nossas crianças e jovens? No que a escola está a falhar no desenvolvimento da curiosidade e do gosto por aprender? No que a família está a falhar na edificação de jovens equilibrados e felizes?

As crianças e os jovens estão a ir buscar os valores, a identidade e os códigos de conduta à internet e entre pares. O adulto tem perdido influência e diminuído a sua força como figura de referência, o que tem comprometido o bem-estar e a natural ligação familiar.

Porquê? Porque cada vez mais a sociedade se organiza de forma a que os adultos vivam na correria das suas exigências profissionais e dos seus afazeres de rotina caseira, relegando o tempo de qualidade com os filhos para segundo plano. Nada que não acontecesse desde sempre ... pensamos nós.

Porém, entre aquilo que as crianças e os jovens de hoje desejam e necessitam e aquilo que nós, adultos, valorizamos e/ou lhes proporcionamos, parece existir um desalinhamento que não permite que as nossas crianças cresçam felizes e motivadas para serem os melhores autores da sua própria história.

Ao questionar alguns jovens sobre o que mais os perturba, invariavelmente me referem, o stress e a ansiedade. Causada por quê, pergunto eu. Sobretudo pelas exigências da escola, dos professores, dos pais … pelos adultos, diria eu. Existem referências que indicam que atualmente 20% dos jovens do mundo ocidentalizado sofre de stress ou de ansiedade. Sem darmos por isso, está a nascer uma nova epidemia, ultimamente agravada pela pandemia. Será que queremos ver e agir, ou vamos continuar a esperar que as crianças e os jovens se resolvam sozinhos e se encaixem nas nossas expectativas?

Neste estado de desnorte é bom ter presente que os adultos somos nós, e que é em nós que a mudança tem de começar. O cérebro da criança ou do jovem ainda se encontra em fase de desenvolvimento (que terminará pelos 20/21 anos, ou para alguns autores ainda mais tarde), nomeadamente naquilo que se refere às suas capacidades cognitivas e executivas. Por isso tantas vezes ouvimos dizer que as crianças são “espelhos” ou “esponjas”. Atualmente, na condição de aceleração digital e de circulação massiva de informação, sem a presença e intervenção cuidadosa e atenta do adulto para ajudar a fazer a ligação entre o cérebro límbico/emocional e o cérebro executivo/racional, as crianças de hoje têm muita dificuldade em lidar com tanta emoção e tanto estímulo ao mesmo tempo (no nosso tempo era bem mais fácil).

Contudo, muitos de nós, frequentemente não têm conhecimento deste facto revelado pela neurociência e, na aceleração e no stress do dia-a-dia, partem do princípio que a criança “entende” tudo aquilo que se lhe diz e da forma como se lhe diz e que o jovem “já devia saber” o quer que seja, alimentando expectativas que as nossas palavras serão suficientes para que tudo corra bem. E às vezes são. Outras vezes não. Imensas vezes nos esquecemos de que as palavras podem convencer, mas são os exemplos que arrastam! E assim vamos esperando e desesperando que os mais novos façam aquilo que dizemos e não aquilo que fazemos …

Por isso, tornou-se demasiado importante que os adultos saibam que quando a criança se sente insegura ou triste sem ter quem a acolha ou com quem falar, ao não conseguir lidar com a sua dor, se sente sozinha, desprotegida e tende a se desconectar de quem é, a desacreditar em si mesma e a se refugiar em comportamentos distrativos ou reativos.

É demasiado importante que os adultos saibam que para se educar alguém, primeiro é preciso terminar a sua própria educação, conhecendo-se a si mesmo, compreendendo e identificando a sua própria infância e o modo como lidou com os desafios de então. Perceber verdadeiramente no que acredita e o que aprendeu a esconder dentro de si – o medo, a raiva, a revolta, a frustração, as expectativas goradas e agora recriadas, que tantas vezes não permitem olhar a criança de uma forma clara, mas sim como uma projeção de si mesmo.

É demasiado importante que os adultos saibam que as crianças de hoje são muito diferentes das crianças do século passado e que, embora tenham chegado sem um “Manual de Instruções”, podemos lê-las à luz duma presença plena, sem pressas, de forma atenta, próxima e curiosa, olhos nos olhos, coração no coração.

É demasiado importante que os adultos se lembrem que comportamento gera comportamento, e que, tal como nós tendemos a repetir padrões de relacionamento dos nossos pais e família, também os nossos filhos tenderão a repetir os nossos padrões. Não obstante e mesmo que aparentemente isso não seja evidente e que a estratégia seja diferente, é importante saber que, em cada família, existe uma “lealdade em cadeia” que une pais e filhos.

Por isso é tão importante que cada educador resgate a sua melhor versão, se transforme num incondicional porto-seguro e cuide da coerência entre aquilo que diz e faz … e que o faça não só por amor, mas com amor, pois tem nas suas mãos e à sua responsabilidade um ser vulnerável que carece, mais do que em qualquer outro momento da história da humanidade, da presença e do amor incondicional dos seus pais para se sentir seguro, aceite, compreendido e amado.

E se o fizermos, depressa perceberemos que aquilo que as crianças desejam é sentirem-se ligadas física e emocionalmente, que os pais as aceitem como são e as escutem, que falem com elas e não só para elas, que lhes seja permitido exprimir a sua autenticidade, sem julgamentos e críticas, que confiem nelas, deixando-as tomar decisões, experimentar, errar e aprender pelos seus próprios pés.

Porquê? Porque nascemos para aprender e aprender é a natureza humana. Instintivamente, as crianças querem aprender, querem crescer, querem viver sem medo, querem ser incentivadas e valorizadas … e quando os pais não “têm tempo”, elas irão procurar orientação e validação noutro lugar. E a internet está à mão, as conexões com os seus pares estão digitalmente acessíveis, os jogos e as séries anestesiam o vazio que sentem … E é assim que, sem se dar por isso, o ponto de referência muda. E quando acordamos já existe muito caminho percorrido (ou não percorrido) e o distanciamento está instalado.

Nós somos os adultos! É em nós que a mudança começa. Não podemos esperar que as crianças mudem se nós não nos disponibilizarmos primeiro a conhecer-nos, compreender-nos, aceitar-nos e a amar-nos o suficiente para nos tornarmos conscientes do que verdadeiramente se passa com as nossas crianças e jovens.

O futuro das nossas crianças somos nós!

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03
Jun21

Regras & Acordos

Educação Positiva

Na sequência da publicação anterior sobre o porquê de sentirmos dificuldade em estabelecer regras com as crianças e jovens de hoje, seguimos hoje no sentido de acrescentar ainda mais valor ao tema.

O estabelecimento de REGRAS & ACORDOS com as nossas crianças e jovens implica a necessária habilidade de fazer acordos sem imposições, chantagens ou punições.

Em termos conceptuais, um ACORDO é um pacto resultante dum encontro de ideias e sentimentos, que requer uma abertura à mudança, flexibilidade e conciliação de anseios. Através da aceitação e da escuta de todas as partes, leva à descoberta de novos pontos de vista, que num movimento confluente no sentido duma solução comum, inclui ganhos para todas as partes.

Nada de novo para nós … mas será que se aplica na relação com crianças e jovens?

Por outro lado, a chantagem não é nem nunca será um ato educativo. É mais um ato desesperado de quem não tem mais recursos no momento. Não obstante, não reforça positivamente um novo e desejado comportamento porque não origina uma adesão voluntária, uma reflexão ou um compromisso pessoal. A intenção é distorcida em função dum resultado, e por conseguinte, a médio prazo, o efeito também não será o esperado.

A imposição é e será sempre uma repressão que prejudica muito a relação, pois a criança entende que não pode exprimir ou realizar o que pensa, sente ou quer … com todas as consequências que hoje, como adultos, sentimos na nossa própria pele (eu sinto!).

É verdade  que o castigo ou a punição, têm um efeito imediato na diminuição do comportamento indesejado e na redução da probabilidade da sua repetição … mas não resolvem a questão de um modo mais profundo e categórico. Muito provavelmente, tendem a aumentar a revolta e a propensão para a afronta, porque naturalmente, a criança não compreende a ligação ou a razão por que está a ser castigada (com me lembro de, em criança, sentir esta revolta dentro de mim!).

A neurociência explica o porquê das crianças até aos 12 anos não reagirem aos castigos com aquelas aprendizagens que os adultos esperam e desejam … mas antes pelo contrário, serem levadas a se adaptarem e a encontrarem estratégias de pura sobrevivência, não deixando por esse motivo, de se sentirem injustiçadas e incompreendidas (como me lembro de sentir esta incompreensão … que dava lugar a uma raiva que eu desconhecia, mas que brotava envergonhada de dentro de mim!).

Quando, em vez de imposições (“Porque sou tua mãe!”) e de castigos (“Ficas sem o telemóvel para ver se aprendes!”), escolhermos o caminho da real participação da criança/jovem em ACORDOS e COMBINAÇÕES, no seu cérebro, abre-se um novo caminho neurológico.

Estas novas ligações cerebrais permitem a realização de novas aprendizagens, geram a expansão do mapa mental da criança e facilitam naturalmente uma adaptação social ajustada ao contexto em que a criança/jovem se insere, pois foram criadas com base numa efetiva e eficaz compreensão daquilo que pode fazer, e da FORMA COMO o pode fazer.

Muitas vezes as crianças não entendem as “explicações dos adultos” e é preciso aclarar de forma muito concreta e específica aquilo que dizemos e que queremos das crianças. Não nos esqueçamos que o desenvolvimento do cérebro decorre até perto dos 20 anos. Até lá, é o adulto que em parte, tem de fazer esse papel …

Por isso, a construção de REGRAS & ACORDOS assenta numa construção conjunta, baseada numa curiosidade genuína e numa escuta ativa por parte do adulto, bem como numa indispensável abertura à mudança, onde o adulto divide a responsabilidade da resolução de determinada situação com a criança/jovem.

 Nestes casos, a linguagem utilizada deve ser concreta e específica para que a criança/jovem entenda sem qualquer dúvida o que se espera dela/e (é essencial não presumir que a criança/jovem entende o conceito da mesma forma que o adulto).

Sempre com foco na solução (não referindo situações passadas) e para que o ACORDO seja efetivo e eficaz, a participação genuína da criança/jovem deverá ser sempre estimulada e encorajada pelo adulto.

Vamos ao passo a passo:

  1. Colocar o problema – cada parte coloca o seu ponto de vista, revelando motivos e sentimentos, tanto quanto possível de forma isenta, factual e sem julgamento.
  2. Expor as regras da casa (ou da escola)  e propor para essa situação uma construção conjunta de Regras & Acordos.
  3. Através de BOAS PERGUNTAS, questionar a criança/jovem sobre o que pensa sobre isso e como acredita que se pode resolver o problema.”Como podemos resolver isto?”
  4. Construir em conjunto – continuar a perguntar, a ouvir as propostas da criança e ir avaliando em conjunto quais serão as que fazem mais sentido e serão mais eficazes… até se encontrar uma solução equilibrada (win-win).
  5. Considerar sempre as possíveis e reais consequências do não cumprimento do “acordo” – “Se não cumprires … “ o que pode acontecer … pois a criança não tem ainda a maturidade neurológica e a capacidade inata de prever as consequências dos seus atos. 
  6. Fixar o acordo (passa a ser uma regra) e valorizar a decisão.
  7. Se a criança não cumprir a regra acordada, não é o momento para deixar de acreditar nela, mas de deixar a criança vivenciar as consequências. Só depois dessa vivência se deverá ter uma nova conversa para acertar novamente as “Regras e Acordos”, passando de novo a responsabilidade da resolução do problema para a criança/jovem.

Quando as regras são combinadas e não impostas, os acordos viram regras! Inicialmente, poderá ser um processo mais moroso, mas a longo prazo, os resultados serão bem mais consistentes!

E afinal, honestamente, como é connosco, adultos?

Quem não prefere participar e ser ouvido nas regras da sua própria vida?

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FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching