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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

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31
Out21

Ensinar a pensar (I)

Educação

Educar não é ensinar as respostas, educar é ensinar a pensar. – Rubem Alves

Sendo mãe e professora, oiço e afirmo vezes sem conta que as crianças/jovens/alunos de hoje “não sabem pensar” e que preferem as respostas fáceis, imediatas e descartáveis. O mundo acelerou e parece não haver tempo para investir em processos de observação, exploração, descoberta, construção e criação do saber.

Vivemos na era do consumo “usa e deita fora” a quase todos os níveis, incluído a nível do conhecimento … e isso, não só impacta a forma como vivemos o nosso dia-a-dia, como a formação da personalidade e o desenvolvimento do cérebro dos mais jovens, pois se hoje lhes damos a solução “oferecida de bandeja”, mais tarde, na sua vida adulta, dificilmente irão procurar, construir e encontrar novas soluções para problemas antigos.

De um modo geral, hoje percecionamos a realidade e os acontecimentos à nossa volta de uma forma rápida, apressada, logico-racional, e tantas vezes sequestrada pela emoção. Embora a criatividade, a flexibilidade, o empreendedorismo sejam qualidades cada vez mais requeridas no atual mercado de trabalho, temos vindo progressivamente a perder a capacidade e a flexibilidade de pensar de forma espontânea, refletida, crítica e criativa.

Tendencialmente, olhamos mais para os outros do que para nós próprios e queixamo-nos que os jovens de hoje não sabem o que querem, que são desprovidos de objetivos de vida e se deixam andar ao “sabor da corrente”.

Afinal, o que está a faltar? Um cérebro capaz de pensar e de atuar critica e deliberadamente sobre a realidade que enfrenta. Este cérebro é um cérebro que não é refém das suas emoções, que reflete e fala sobre sentimentos, que os identifica e compreende, classifica e usa com curiosidade, abertura e sentido crítico, ampliando possibilidades e criando uma liberdade de ser e de fazer de acordo com a sua intenção e/ou objetivo.

Sabemos isto (teoricamente) e vamos desejando que as nossas crianças saibam pensar, sejam autónomas e autodeterminadas, sem, contudo, mudarmos algo na nossa forma de educar que lhes proporcione essa aprendizagem.

Mas, diriam, pensar não é natural? Não nascemos já com essa habilidade inata? Sim e não. Pensar é humanamente natural. Porém, a vontade de pensar de forma reflexiva precisa ser estimulada e ensinada. Muitas vezes esquecemo-nos deste pequeno “pormaior” e partimos erradamente do princípio de que as nossas crianças já “sabem pensar” e que já têm adquirida essa capacidade reflexiva sobre as situações que vivenciam.

Vais ali para aquele canto pensar sobre o que fizeste!” – sabem o que acontece verdadeiramente naquele canto?

A criança sente-se incompreendida e não percebe porque está ali, pode sentir-se rejeitada e não-amada, culpa-se e classifica-se como “não suficiente” (conseguem rever-se na vossa infância?). Mas, acima de tudo, quer sobreviver e escapar dali. Está envolta numa espiral de emoções e não consegue refletir sobre a situação, desenvolver um pensamento estruturado, crítico e construtivo sobre o ocorrido. Não obstante, o seu cérebro foi desenhado para sobreviver. Ali, naquele canto, a criança vai aprender a se superar, vai aprender a enterrar emoções, a adaptar-se ao que o adulto quer (porque o que mais deseja é ser amada) e vai encontrar a solução: vai fingir que pensou, vai fingir que entendeu, vai fazer e dizer aquilo que sabe e sente que o adulto quer ouvir … porque o que mais quer é ser aceite e sair dali!

Será que assim ajudamos as crianças a desenvolverem a sua neuroplasticidade cerebral, a gerarem novas sinapses, a criarem novos caminhos neurológicos e novas linhas de pensamento que as prepararão para enfrentarem desafios futuros? Será que assim, realmente, as estamos a ensinar a pensar?

A aprendizagem não é apenas um ato de receção e reprodução. A aprendizagem pressupõe apropriação, interpretação e transformação da informação à sua própria maneira, tornando-a disponível a ser usada com sucesso na sua vida. É um processo … que muitas vezes descuramos, apressamos, desvalorizamos. Afinal, também nós tendemos a ir diretos ao resultado imediato e mais fácil.

Em casa ou na escola, ensinar a pensar começa desde que a criança nasce, começa por a ajudar a pensar sobre as suas emoções, a conviver com elas e a agir sobre elas.

Por isso, ensinar a pensar é também desacelerar e saber esperar.

Ensinar a pensar é saber que cada criança é única e que não há crianças iguais. Todas as crianças são importantes da forma que são, o que sente é importante e o que pensa sobre o que sente também é importante.

Ensinar a pensar é facilitar o processo de descoberta e de experimentação, sem apressar a conclusão.

Ensinar a pensar é estimular a participação e ajudar a clarificar cada passo do processo de reflexão, sem saltar etapas.

Ensinar a pensar é questionar em vez de responder, ouvir em vez de sugerir.

Ensinar a pensar é valorizar as propostas, aceitar as sugestões e promover a argumentação.

Ensinar a pensar é dar largas à imaginação, sonhar e inventar de forma divertida.

Ensinar a pensar é promover o trabalho de colaboração e em equipa, afinal “várias cabeças pensam melhor que uma”.

Ensinar a pensar é estimular o diálogo, procurando e explorando diferentes pontos de vista.

Ensinar a pensar é incentivar a reflexão, a análise antecipada de consequências e a tomada de decisão autodeterminada e segura.

Ensinar a pensar é respeitar o ritmo de aprendizagem de cada criança, ressignificando os erros, auxiliando na gestão da frustração e encorajando a persistência.

Ensinar a pensar é estimular a curiosidade, a criatividade, a vontade de descobrir e o gosto de aprender coisas novas.

Ensinar a pensar é saber que respeitar cada passo do entendimento abre um caminho cerebral que, reforçado, se transforma numa autoestrada de pensamento.

Ensinar a pensar é formar pessoas capazes, responsáveis, autónomas e livres.

Mas para isso não podemos ter pressa, querer que todos aprendam ao mesmo ritmo e da mesma forma, e ter hoje os resultados que naturalmente, só surgirão amanhã.

A educação do século XXI necessita ir além da memorização de conhecimento. Hoje em dia existe tanta informação disponível que a capacidade de pensar criticamente se tornou uma ferramenta indispensável para fazer face aos desafios da sociedade atual. A escola e a família estão atualmente a ser chamadas para exercer um novo papel – ENSINAR A PENSAR.

Ser capaz de recolher informação, analisá-la criticamente, resolver problemas e tomar boas decisões são habilidades essenciais já nos dias de hoje. Quando as nossas crianças forem adultas, e para que possam verdadeiramente ser os protagonistas do papel principal das suas vidas, estas habilidades serão certamente ainda mais requeridas.

Já dizia Jean Piaget, o principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram

A capacidade de pensar e de se autodeterminar é o melhor presente educativo que hoje podemos oferecer às nossas crianças, adultos de amanhã.

Honestamente, já pensaram seriamente sobre isto?

Pensar k.jpg

 

04
Jun19

Às voltas

Como um cão, às voltas atrás da própria cauda … assim estou eu.

Atrás de mim própria, atrás daquilo que lá atrás deixei …

Colocando-me à frente de mim mesma,

Agarrada ao que cedo aprendi

E àquilo que sempre consegui.

 

Andar às voltas sem sair do lugar,

Parece insano, mas não é tão peculiar assim.

Pensar, sentir, associar, compreender, aceitar …

Reformular, recompor, resignificar … e voltar ao princípio,

Descobrindo o que já sabia

E caminhando o que já conhecia.

 

Porque, parte de mim anseia

E outra parte não negoceia.

Parte de mim quer mudar

E outra parte quer ficar.

Parte de mim quer ir

Outra parte quer resistir.

Parte de mim quer agarrar

Outra parte quer largar …

Parte de mim quer relaxar

E a outra parte quer ganhar.

 

E nestas dialéticas de “partes”,

Vai ganhando a parte mais antiga,

Aquela que me diz para não inovar

Aquela que aprendeu desde pequena,

Que no mundo, é preciso ganhar.

 

Pensa-se demais por aqui.

Sente-se e pensa-se, e pensa-se …

E escreve-se … e pensa-se.

E descobre-se, associa-se, compreende-se, aceita-se …

Mas não se anda, não se faz, não se vai ao encontro.

Não se muda, não se solta, não se renova.

 

Até se sabe que é preciso abrir a mão

Para largar, relaxar, confiar, entregar …

Pois, só com uma mão aberta se pode receber e alcançar.

Só de braços abertos se expandem horizontes,

Se abrem outros mundos …

Para se arriscar florescer e prosperar.

 

Até se sabe que só indo, saindo, fazendo, convivendo …

Se abrem novos caminhos e se desatam velhos nós.

Só com a ação, não com a razão.

Mas saber não é solução.

Saber não basta, é preciso agir.

É preciso tentar. É preciso permitir.

 

Permitir perder. Permitir sofrer. Permitir escolher.

Permitir não ter. Permitir não ser.

Permitir arejar. Permitir mudar.

 

E sem permitir, sem deixar …

Uma velocidade ansiosa de viver

Coloca-me em constantes rodeios

Sempre na busca de mais, de melhor, de diferente …

Num eterno rodopio, sem afinal,

Deixar espaço para a alma transbordar.

 

E enquanto isso,

A vida é aquilo que está a acontecer

Enquanto eu penso, eu sinto, eu hesito,

Eu adio, eu fujo, eu fico …

Serena e tranquilamente, por aqui a escrever!

Por-que-os-cães-perseguem-suas-caudas.jpg

 

 

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