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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

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03
Jun21

Regras & Acordos

Educação Positiva

Na sequência da publicação anterior sobre o porquê de sentirmos dificuldade em estabelecer regras com as crianças e jovens de hoje, seguimos hoje no sentido de acrescentar ainda mais valor ao tema.

O estabelecimento de REGRAS & ACORDOS com as nossas crianças e jovens implica a necessária habilidade de fazer acordos sem imposições, chantagens ou punições.

Em termos conceptuais, um ACORDO é um pacto resultante dum encontro de ideias e sentimentos, que requer uma abertura à mudança, flexibilidade e conciliação de anseios. Através da aceitação e da escuta de todas as partes, leva à descoberta de novos pontos de vista, que num movimento confluente no sentido duma solução comum, inclui ganhos para todas as partes.

Nada de novo para nós … mas será que se aplica na relação com crianças e jovens?

Por outro lado, a chantagem não é nem nunca será um ato educativo. É mais um ato desesperado de quem não tem mais recursos no momento. Não obstante, não reforça positivamente um novo e desejado comportamento porque não origina uma adesão voluntária, uma reflexão ou um compromisso pessoal. A intenção é distorcida em função dum resultado, e por conseguinte, a médio prazo, o efeito também não será o esperado.

A imposição é e será sempre uma repressão que prejudica muito a relação, pois a criança entende que não pode exprimir ou realizar o que pensa, sente ou quer … com todas as consequências que hoje, como adultos, sentimos na nossa própria pele (eu sinto!).

É verdade  que o castigo ou a punição, têm um efeito imediato na diminuição do comportamento indesejado e na redução da probabilidade da sua repetição … mas não resolvem a questão de um modo mais profundo e categórico. Muito provavelmente, tendem a aumentar a revolta e a propensão para a afronta, porque naturalmente, a criança não compreende a ligação ou a razão por que está a ser castigada (com me lembro de, em criança, sentir esta revolta dentro de mim!).

A neurociência explica o porquê das crianças até aos 12 anos não reagirem aos castigos com aquelas aprendizagens que os adultos esperam e desejam … mas antes pelo contrário, serem levadas a se adaptarem e a encontrarem estratégias de pura sobrevivência, não deixando por esse motivo, de se sentirem injustiçadas e incompreendidas (como me lembro de sentir esta incompreensão … que dava lugar a uma raiva que eu desconhecia, mas que brotava envergonhada de dentro de mim!).

Quando, em vez de imposições (“Porque sou tua mãe!”) e de castigos (“Ficas sem o telemóvel para ver se aprendes!”), escolhermos o caminho da real participação da criança/jovem em ACORDOS e COMBINAÇÕES, no seu cérebro, abre-se um novo caminho neurológico.

Estas novas ligações cerebrais permitem a realização de novas aprendizagens, geram a expansão do mapa mental da criança e facilitam naturalmente uma adaptação social ajustada ao contexto em que a criança/jovem se insere, pois foram criadas com base numa efetiva e eficaz compreensão daquilo que pode fazer, e da FORMA COMO o pode fazer.

Muitas vezes as crianças não entendem as “explicações dos adultos” e é preciso aclarar de forma muito concreta e específica aquilo que dizemos e que queremos das crianças. Não nos esqueçamos que o desenvolvimento do cérebro decorre até perto dos 20 anos. Até lá, é o adulto que em parte, tem de fazer esse papel …

Por isso, a construção de REGRAS & ACORDOS assenta numa construção conjunta, baseada numa curiosidade genuína e numa escuta ativa por parte do adulto, bem como numa indispensável abertura à mudança, onde o adulto divide a responsabilidade da resolução de determinada situação com a criança/jovem.

 Nestes casos, a linguagem utilizada deve ser concreta e específica para que a criança/jovem entenda sem qualquer dúvida o que se espera dela/e (é essencial não presumir que a criança/jovem entende o conceito da mesma forma que o adulto).

Sempre com foco na solução (não referindo situações passadas) e para que o ACORDO seja efetivo e eficaz, a participação genuína da criança/jovem deverá ser sempre estimulada e encorajada pelo adulto.

Vamos ao passo a passo:

  1. Colocar o problema – cada parte coloca o seu ponto de vista, revelando motivos e sentimentos, tanto quanto possível de forma isenta, factual e sem julgamento.
  2. Expor as regras da casa (ou da escola)  e propor para essa situação uma construção conjunta de Regras & Acordos.
  3. Através de BOAS PERGUNTAS, questionar a criança/jovem sobre o que pensa sobre isso e como acredita que se pode resolver o problema.”Como podemos resolver isto?”
  4. Construir em conjunto – continuar a perguntar, a ouvir as propostas da criança e ir avaliando em conjunto quais serão as que fazem mais sentido e serão mais eficazes… até se encontrar uma solução equilibrada (win-win).
  5. Considerar sempre as possíveis e reais consequências do não cumprimento do “acordo” – “Se não cumprires … “ o que pode acontecer … pois a criança não tem ainda a maturidade neurológica e a capacidade inata de prever as consequências dos seus atos. 
  6. Fixar o acordo (passa a ser uma regra) e valorizar a decisão.
  7. Se a criança não cumprir a regra acordada, não é o momento para deixar de acreditar nela, mas de deixar a criança vivenciar as consequências. Só depois dessa vivência se deverá ter uma nova conversa para acertar novamente as “Regras e Acordos”, passando de novo a responsabilidade da resolução do problema para a criança/jovem.

Quando as regras são combinadas e não impostas, os acordos viram regras! Inicialmente, poderá ser um processo mais moroso, mas a longo prazo, os resultados serão bem mais consistentes!

E afinal, honestamente, como é connosco, adultos?

Quem não prefere participar e ser ouvido nas regras da sua própria vida?

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FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching

15
Mai21

Porque não conseguimos impor regras aos nossos filhos?

As crianças de hoje parecem não nos ouvir …

Porque é tão difícil levar as crianças ou jovens a fazer aquilo que nos parece ser o certo e o melhor para eles? Porque ultimamente tem sido tão difícil disciplinar rotinas diárias e implementar regras com as crianças e jovens?

Parece que só fazem aquilo que querem, que nos desgastam “porque sim” e que no final, nos vencem pela exaustão …

Talvez seja por não entenderem verdadeiramente aquilo que nós estamos ou queremos dizer. Porquê? Porque nós não explicamos de modo que elas entendam e sobre tudo, de modo, a que elas se sintam escutadas e acolhidas.

“Mas eu combino as regras com o meu filho e, mesmo assim, ele depois não as cumpre!”

Paremos para pensar. Afinal o que é o nosso “combinar”?

Muitas vezes o adulto expressa e afirma o que quer, ouve de soslaio o que a criança diz, e no final remata: “Combinado?”

Será mesmo uma “combinação” ou um acordo entre partes? Parece-me que nestes casos, e apesar do uso da palavra “combinado”, não se trata de uma combinação ou de um acordo, mas de uma imposição bem camuflada num suposto “combinado”.

Outras vezes o adulto não confia que a criança vai conseguir cumprir o que ficou definido e demonstra isso com frases do tipo: “Sempre quero ver se desta vez vai ser diferente do costume e se fazes aquilo que combinámos”…

Ou, quase em desespero, usa chantagens para que aquilo que foi “combinado” seja cumprido: “Se tomares banho por tua iniciativa, deixo-te ficar mais tempo a jogar.”

Este tipo de situação pode ser confundida com negociação, mas na verdade é uma chantagem. Quando o adulto propõe uma compensação, a criança tende a não cumprir o seu compromisso de uma forma consistente, uma vez que o “negócio” só fez sentido para ganhar algo em troca. Esta opção resolve a situação no momento, mas mais tarde revela um curto prazo de validade.

E pode ainda acontecer que, no caso de a criança não cumprir o “combinado”, o adulto castigue a criança: ”Não cumpriste o que combinámos, por isso vais ficar uma semana sem tablet”. É neste momento que a criança interioriza que o adulto deixou de acreditar nela – “end of history!”.

Está cientificamente comprovado que o cérebro da criança, embora nasça emocionalmente desenvolvido, racional e cognitivamente estará em desenvolvimento até cerca dos 20 anos! Por essa razão, pesquisas neurocientíficas demonstram que as crianças até aos 12 anos não respondem à punição e aos castigos com aprendizagens concretas, mas pelo contrário sentem-se injustiçadas e incompreendidas, desenvolvendo apenas comportamentos mais ou menos condicionados e adaptados.

Afinal, será que temos assim a memória tão curta? Como foi quando éramos crianças? Eu lembro-me de sentir dentro de mim uma incompreensão e uma revolta profunda, pois não conseguia entender o que se passava à minha volta nem o porquê das limitações e condições que me impunham. E convosco, como foi?

Ok, então vamos lá. Como podemos fazer diferente? Como poderemos conseguir estabelecer uma verdadeira e eficaz comunicação com os nossos filhos? Como poderemos trazer mais paz e harmonia à vida familiar?

Vamos lá trazer um pouco mais de clareza à questão …

Uma REGRA é um princípio ou uma norma FIXA e que se aplica a TODOS! São as regras da casa. E não funcionam bem se forem as regras de uns e não de outros, por mais óbvias e racionais que nos pareçam as nossas justificações.

Para a regra funcionar tem de ser genuinamente aceite por todos os envolvidos, independentemente da sua idade e papel que desenvolve no sistema. E para tal, é importante que na regra fixa, para além da sua parte inegociável, exista uma outra parte que seja flexível e passível de ser “personalizada” e incorporada como “minha”.

Como é que isso se faz? Através de acordos e combinações, onde fica COMBINADO o “modo COMO” essa REGRA vai ser cumprida por todos.

Um ACORDO (ou combinado) é algo que é negociável e flexível, que deve ser honesta e claramente especificado no pacto que se estabelece com a criança, sendo as suas ideias e propostas necessária e atentamente consideradas na resolução final.

Não nos iludamos, as crianças percebem bem demais os nossos “sim para que me deixes”!

E quando assim é, a nossa expectativa de ter filhos obedientes e pouco adversos … contradiz o nosso desejo de criar pessoas ativas, interventivas e empreendedoras da sua própria felicidade e sucesso. Se queremos que eles aprendam a pescar, não lhe podemos dar o peixe já pronto!

As crianças aprendem mais pelo nosso exemplo do que pelas nossas palavras, por isso a solução passa mais pelo nosso alinhamento entre razão e ação, do que pela nossa explicação o imposição.

A arte de impor uma regra está afinal … em não a impor!

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Glossário:

ACORDO – Pacto resultante da comunhão de ideias e sentimentos. Concordância e harmonia. Requer uma abertura à mudança, flexibilidade e conciliação. Através da aceitação e da escuta de ambas as partes, leva à descoberta de novos pontos de vista, congruentes e com ganhos para ambos os lados.

CHANTAGEM – não é um ato educativo nem reforça um novo comportamento positivo e desejado porque não gera uma adesão voluntária, uma reflexão ou um compromisso pessoal.

IMPOSIÇÃO – é uma repressão que muito prejudica a relação, pois a criança entende que não pode expressar ou realizar o que pensa, sente ou quer … com todas as consequências que hoje sentimos na nossa própria pele.

PUNIÇÃO ou CASTIGO – produz a diminuição do comportamento indesejado de imediato, reduz a probabilidade da sua repetição … mas não resolve a questão. Aumenta a revolta e a tendência para a afronta, pois a criança não compreende a ligação ou a razão por que está a ser castigada. Crianças até aos 12 anos não respondem ao castigo com a aprendizagem que os adultos desejam … apenas se adaptam e sobrevivem.

CONSEQUÊNCIA - é o resultado de algo produzido por uma causa (relação causa-efeito). Deixar que as crianças vivenciem as consequências dos seus atos ou da falta deles, permite que se apercebam da real importância das suas ações e da relação causa-efeito que estabelecem.

 

FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching

 

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