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Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

Estamos sempre a tempo de Flo(rir)

Desenvolvimento Pessoal & Educação

27
Mar22

Ensinar a Pensar (II)

Educação

Na sequência do post anterior, Ensinar a Pensar (I) vamos hoje avançar para uma abordagem prática de como ajudar mais os jovens a pensar antes de agir.

As crianças e jovens de hoje estão naturalmente sujeitos a uma sobre-estimulação sensorial, resultante da rapidez, fácil acessibilidade, grande quantidade de informação e de objetos estimulantes ao seu dispor. Esta sobrecarga tende a desenvolver nas crianças o “Síndrome do Pensamento Acelerado” (A. Cury), o que os torna mais impulsivos e lhes diminui significativamente a capacidade de “parar para pensar”.

É urgente que os adultos desempenhem um papel de reforço das capacidades reflexivas da criança e que a orientem  através de um passo-a-passo, rumo a uma clareza de possibilidades e a uma escolha consciente e positiva, para si e para quem está à sua volta. É essencial e indispensável que façamos este trabalho com os nossos filhos ou alunos, pois, para a atual geração, a presença e ação positiva, confiante e tranquila do educador, tornou-se num importante fator de desenvolvimento e de saúde mental.

A metodologia do SEMÁFORO DO PENSAMENTO oferece uma visualização da estrutura desse processo, permitindo a adultos e crianças/jovens, seguirem um caminho autónomo de resolução de problemas, que irá reforçar a aptidão dos mais novos para pensarem de modo crítico e refletirem sobre as situações do seu quotidiano, bem como para se sentirem mais seguros e confiantes nas suas próprias capacidades.

De um modo prático o SEMÁFORO DO PENSAMENTO passa pelas seguintes etapas:

1 - VERMELHO – PARAR contrariando a impulsividade, parar observar, ver, escutar, ler, sentir aquilo que está a acontecer dentro de mim e à minha volta.

2 - AMARELO – PENSAR, refletir e decidir, procurando e identificando possibilidades/alternativas de saída da situação, prevendo consequências e escolhendo a melhor opção para mim, tendo também em consideração as necessidades alheias. Numa segunda etapa de desenvolvimento deste pensamento de resolução de problemas, poderá ser também oportuno introduzir a identificação de padrões que se repitam, a decomposição de grandes problemas em pequenos passos, bem como evidenciar as vantagens da construção de PLANOS DE AÇÃO, adiando a recompensa para mais tarde.

3 – VERDE – AGIR de forma articulada com aquilo que se decidiu, fazer, desenhar, escrever, falar, jogar, treinar … de forma coerente, persistente e repetida, para que se consiga atingir aquilo que se deseja.

Mas saber teoricamente “como” o semáforo funciona não basta. É preciso procurar, persistir e encontrar situações de TRANSFERÊNCIA para a vida real. Em que situações podes usar o Semáforo do Pensamento na tua vida? Como é o que o Semáforo do pensamento te poderá ser útil?  E depois, aproveitar as circunstâncias do dia-a-dia para o aplicar e assim, proporcionar experiências e  oportunidades da criança ou jovem pensar duma forma refletida sobre os seus próprios desafios.

Levar e conduzir a criança/jovem pacientemente ao longo deste processo é estar a educar para a autonomia, para a autorresponsabilidade e para a liderança de si mesmo. É estar efetivamente a dar-lhe ferramentas facilitadoras da sua autodeterminação e duma gestão emocional positiva.

Porém, tal como a própria metodologia diz, não tem efeitos mágicos. É preciso pegar a criança pela mão e dar-lhe tempo para que ela passe pelas várias “luzes” do semáforo e possa assim APRENDER A PENSAR pela sua própria cabeça. Não adianta apressar, sugerir ou dar a solução. É preciso confiar que a criança ou o jovem tem em si a capacidade de encontrar a melhor solução para si mesmo. Como tudo na vida, requer treino, persistência e aplicação no momento em que surge a situação desafiante.

Mas o meu filho até sabe a teoria, mas depois na prática não se lembra de aplicar o Semáforo!

Ele e nós. O semáforo também serve para nós, adultos. Então, o que nos dificulta tanto a sua aplicação? A emoção! Enquanto estivermos reféns dum estado emocional intenso será difícil parar para pensar (ativar o nosso semáforo). Por isso, o segredo é controlarmos aquele momento em que escolhemos nos afastar, desligar, tirar um tempo …

O segredo é ESCOLHER fazer uma pequena PAUSA que nos permite “sair da ilha para ver a ilha”, ou por outras palavras, nos permitirá uma efetiva gestão emocional. Como? O truque é fazer um time out. Mas como fazer essa pausa funcionar? Com a prática, cada pessoa descobrirá o que funciona melhor consigo … quando há vontade, o caminho aparece!

Educar é ajudar a criança a resolver um problema. Castigar é fazer a criança a sofrer por ter um problema. Para criar SOLUCIONADORES DE PROBLEMAS, é preciso focar na solução e não na retaliação. (L.R.Knost)

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04
Jan22

Aprender ou não aprender (I)

O que eu gostava que a escola ensinasse

Costumo dizer que sou daqueles alunos que nunca mais saem da escola … iniciei aos 5 anos e nunca mais de lá saí … é muito ano (nem vos digo quantos!). A escola é a história da minha vida. Primeiro foi a aprendizagem. Depois o ensino. É cada vez menos a escola do ensino-aprendizagem e mais da aprendizagem-ensino …, pois “ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar” (Esopo).

Constato que, em contexto escolar, se vai acentuando cada vez mais o hiato entre o ensino e a aprendizagem. É imperioso dar a matéria, cumprir o programa, concretizar o planeamento e assinar sumários. É preciso “dar” a lição sem muitas vezes se confirmar se aquilo que se transmitiu foi “recebido” compreendido, assimilado e integrado. E assim o ensino se divorcia cada vez mais da aprendizagem, sem se percecionar que a escola é prioritariamente um lugar de aprendizagem e não tanto de ensino. De que serve ensinar se os alunos não aprendem aquilo que ensinamos?

Na faculdade aprendi que para além do curriculum formal (programa), deveria também ser considerado o currículo verdadeiramente aplicado e curriculum oculto (implícito). Nos dias de hoje, pela sua importância e relevância, uma nova manifestação do curriculum se vem impondo – o CURRICULUM PARALELO - o currículo online, da internet, da conexão com redes sociais e aplicações recreativas. Parece-me que, cada vez mais, pela sua constância e repetição (somos aquilo que fazemos de forma repetida!), existe uma grande tendência para que este tipo de currículo seja estruturante do desenvolvimento infantil e juvenil, correndo o risco do seu impacto superar a influência parental ou escolar.

Mais do que memorizar conhecimento (disponível na internet) é urgente desenvolver capacidades e competências de pensamento crítico e de liderança pessoal, de acesso e pesquisa de informação, de análise e tomada duma decisão deliberada e responsável. Mais do que conteúdos é urgente trabalhar processos, ou seja, não basta dar o “peixe” e já nem sequer basta dar a “cana de pesca” (eles já têm tudo na mão!). É preciso ENSINAR A PESCAR (ou a pensar). Além dos dedos, é preciso aprender a “usar a cabeça”. É preciso aprender a regular emoções. É preciso descobrir aquilo que se quer e depois COMO fazer para lá se chegar. É preciso aprender como usar os recursos (tantos) a nosso favor, PASSO A PASSO …

Olhando a escola, e considerando a força do sistema, tenhamos a coragem de questionar e honestamente responder: O que verdadeiramente a ESCOLA ensina às nossas crianças?

A partir daquilo que observo no dia-dia escolar e da tendência comportamental dos nossos alunos ao longo da sua deambulação pelos vários anos de escolaridade, no meu entender, estas são as 5  lições mais fraturantes:

  1. A verdade vem da autoridade (os alunos não se sentem ouvidos nem representados na maioria das decisões).
  2. A inteligência é a capacidade de recordar e repetir da forma esperada e no exato momento em que é solicitado (sem preocupação de aplicabilidade posterior).
  3. Uma boa memória e a repetição acrítica são recompensadas (ter opinião diferente é cada vez mais arriscado).
  4. O não-cumprimento é unidirecionalmente punido (sem apelo).
  5. O conformismo intelectual e social é requerido e gratificado.

 

Assim é hoje, tal como foi comigo há 40/50 anos atrás. E o que se passou comigo? Levei anos, décadas a DESAPRENDER o que aprendi na escola, a mudar crenças, a abrir-me a outras possibilidades, a confiar mais em mim e nas minhas capacidades, a reencontrar a criatividade e o meu próprio valor … a descobrir a verdadeira pessoa por trás daquela couraça. E contigo, como foi?

A escola deveria educar, preparar, potenciar, desenvolver capacidades, dons e talentos. Devia EDUCAR PELA POSITIVA e não se assistir àquele constante “deita a abaixo” (com as devidas exceções) que nos marca para toda a vida. Deveria levar ao autoconhecimento, à apreciação das qualidades únicas e especiais de cada um, ao reforço dum caminho de desenvolvimento e dum projeto pessoal … sim, desde pequeno, preparando para a vida e para as exigências dos tempos que vivemos … e será que verdadeiramente o faz? E se o fizesse, a escola não seria um lugar bem mais interessante?

Com um currículo longo e desinteressante, o distanciamento das aprendizagens da prática do dia-a-dia é uma das grandes razões pela qual os alunos afirmam gostar da escola (como meio de socialização entre pares), mas não das aulas. É assim há décadas. “A escola é uma seca”. A escola continua uma seca …

Com uma escola pouco apelativa e com os pais mais distantes e distraídos com outras "prioridades", vêm-me à ideia matérias de manifesta utilidade (habilidades básicas de vida) a serem abordadas e aprendidas ao longo dos vários anos de escolaridade:

  • Inteligência Emocional (coerência entre pensamento-sentimento-comportamento, empatia)
  • Autodeterminação (identificar o seu propósito /objetivos pessoais, estabelecer o seu caminho e criar a sua própria realidade/condição de vida, única e autêntica)
  • Autocuidado (saúde física e mental, sono, nutrição, auto valor, autoconfiança, gestão do stress)
  • Valores e Relações Interpessoais Saudáveis (interdependência pessoal nos diversos contextos sociais - como desenvolver relações win-win)
  • Resolução de Problemas (pensamento crítico, pesquisa e análise de informação, busca de soluções)
  • Criatividade e Inovação (valorizar e desenvolver a intuição e arriscar algo diferente)
  • Comunicação (como ajustar a comunicação ao outro, como falar em público)
  • Inteligência Financeira (economia pessoal)

A aprendizagem de habilidades socio-emocionais certamente aproximaria a escola da vida real e dotaria os alunos de recursos e ferramentas pessoais que os preparariam melhor para os desafios que irão enfrentar na sua vida pós-escolar. Conhecimento é uma coisa. Conhecimento colocado em prática … é outra. Conhecimento colocado em prática de forma adequada às exigências da sociedade do século XXI … é ainda outra.

Na minha visão, o futuro (diria o presente) da escola passa pela nossa capacidade de criar um lugar emocionalmente seguro que valorize a autoexpressão individual. Um lugar de acolhimento e validação pessoal, em que o aluno (ou o professor), antes de o ser … é pessoa, com dons, talentos, dúvidas, fracassos e hesitações. Um lugar de autodescoberta, em que a aprendizagem cognitiva se alicerça em emoções positivas e em que a autorresponsabilidade, autoconfiança e autodeterminação consolidam a formação pessoal/profissional e o sucesso do percurso escolar. Um lugar de suporte mútuo, em que os ganhos de uns são os ganhos de todos, em que a cooperação supera a competição, em que o potencial de entrada se transformou em reais capacidades à saída.

Sonho com um lugar de CONHECIMENTO COLOCADO EM AÇÃO, de forma positiva, empática, respeitadora, construtiva e ecológica. Uma escola onde todos e cada um tem espaço para ser, para saber e fazer, para se expressar e errar, para se descobrir e verdadeiramente APRENDER a ser feliz!

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03
Jun21

Regras & Acordos

Educação Positiva

Na sequência da publicação anterior sobre o porquê de sentirmos dificuldade em estabelecer regras com as crianças e jovens de hoje, seguimos hoje no sentido de acrescentar ainda mais valor ao tema.

O estabelecimento de REGRAS & ACORDOS com as nossas crianças e jovens implica a necessária habilidade de fazer acordos sem imposições, chantagens ou punições.

Em termos conceptuais, um ACORDO é um pacto resultante dum encontro de ideias e sentimentos, que requer uma abertura à mudança, flexibilidade e conciliação de anseios. Através da aceitação e da escuta de todas as partes, leva à descoberta de novos pontos de vista, que num movimento confluente no sentido duma solução comum, inclui ganhos para todas as partes.

Nada de novo para nós … mas será que se aplica na relação com crianças e jovens?

Por outro lado, a chantagem não é nem nunca será um ato educativo. É mais um ato desesperado de quem não tem mais recursos no momento. Não obstante, não reforça positivamente um novo e desejado comportamento porque não origina uma adesão voluntária, uma reflexão ou um compromisso pessoal. A intenção é distorcida em função dum resultado, e por conseguinte, a médio prazo, o efeito também não será o esperado.

A imposição é e será sempre uma repressão que prejudica muito a relação, pois a criança entende que não pode exprimir ou realizar o que pensa, sente ou quer … com todas as consequências que hoje, como adultos, sentimos na nossa própria pele (eu sinto!).

É verdade  que o castigo ou a punição, têm um efeito imediato na diminuição do comportamento indesejado e na redução da probabilidade da sua repetição … mas não resolvem a questão de um modo mais profundo e categórico. Muito provavelmente, tendem a aumentar a revolta e a propensão para a afronta, porque naturalmente, a criança não compreende a ligação ou a razão por que está a ser castigada (com me lembro de, em criança, sentir esta revolta dentro de mim!).

A neurociência explica o porquê das crianças até aos 12 anos não reagirem aos castigos com aquelas aprendizagens que os adultos esperam e desejam … mas antes pelo contrário, serem levadas a se adaptarem e a encontrarem estratégias de pura sobrevivência, não deixando por esse motivo, de se sentirem injustiçadas e incompreendidas (como me lembro de sentir esta incompreensão … que dava lugar a uma raiva que eu desconhecia, mas que brotava envergonhada de dentro de mim!).

Quando, em vez de imposições (“Porque sou tua mãe!”) e de castigos (“Ficas sem o telemóvel para ver se aprendes!”), escolhermos o caminho da real participação da criança/jovem em ACORDOS e COMBINAÇÕES, no seu cérebro, abre-se um novo caminho neurológico.

Estas novas ligações cerebrais permitem a realização de novas aprendizagens, geram a expansão do mapa mental da criança e facilitam naturalmente uma adaptação social ajustada ao contexto em que a criança/jovem se insere, pois foram criadas com base numa efetiva e eficaz compreensão daquilo que pode fazer, e da FORMA COMO o pode fazer.

Muitas vezes as crianças não entendem as “explicações dos adultos” e é preciso aclarar de forma muito concreta e específica aquilo que dizemos e que queremos das crianças. Não nos esqueçamos que o desenvolvimento do cérebro decorre até perto dos 20 anos. Até lá, é o adulto que em parte, tem de fazer esse papel …

Por isso, a construção de REGRAS & ACORDOS assenta numa construção conjunta, baseada numa curiosidade genuína e numa escuta ativa por parte do adulto, bem como numa indispensável abertura à mudança, onde o adulto divide a responsabilidade da resolução de determinada situação com a criança/jovem.

 Nestes casos, a linguagem utilizada deve ser concreta e específica para que a criança/jovem entenda sem qualquer dúvida o que se espera dela/e (é essencial não presumir que a criança/jovem entende o conceito da mesma forma que o adulto).

Sempre com foco na solução (não referindo situações passadas) e para que o ACORDO seja efetivo e eficaz, a participação genuína da criança/jovem deverá ser sempre estimulada e encorajada pelo adulto.

Vamos ao passo a passo:

  1. Colocar o problema – cada parte coloca o seu ponto de vista, revelando motivos e sentimentos, tanto quanto possível de forma isenta, factual e sem julgamento.
  2. Expor as regras da casa (ou da escola)  e propor para essa situação uma construção conjunta de Regras & Acordos.
  3. Através de BOAS PERGUNTAS, questionar a criança/jovem sobre o que pensa sobre isso e como acredita que se pode resolver o problema.”Como podemos resolver isto?”
  4. Construir em conjunto – continuar a perguntar, a ouvir as propostas da criança e ir avaliando em conjunto quais serão as que fazem mais sentido e serão mais eficazes… até se encontrar uma solução equilibrada (win-win).
  5. Considerar sempre as possíveis e reais consequências do não cumprimento do “acordo” – “Se não cumprires … “ o que pode acontecer … pois a criança não tem ainda a maturidade neurológica e a capacidade inata de prever as consequências dos seus atos. 
  6. Fixar o acordo (passa a ser uma regra) e valorizar a decisão.
  7. Se a criança não cumprir a regra acordada, não é o momento para deixar de acreditar nela, mas de deixar a criança vivenciar as consequências. Só depois dessa vivência se deverá ter uma nova conversa para acertar novamente as “Regras e Acordos”, passando de novo a responsabilidade da resolução do problema para a criança/jovem.

Quando as regras são combinadas e não impostas, os acordos viram regras! Inicialmente, poderá ser um processo mais moroso, mas a longo prazo, os resultados serão bem mais consistentes!

E afinal, honestamente, como é connosco, adultos?

Quem não prefere participar e ser ouvido nas regras da sua própria vida?

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FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching

18
Mar21

A arte de escutar para compreender

Educação - Relacionamentos

Muitos de nós, a maioria … ouve mais para responder do que para compreender …

Não é uma crítica. É um facto, consequência do nosso crescimento e formação, da nossa perspetiva sobre aquilo que os outros esperavam e exigiam de nós quando erámos crianças. Aprendemos a ouvir para responder. Aprendemos a ter medo de errar. Aprendemos a estar à defesa. Aprendemos a sobreviver. E também aprendemos que sobreviver é dar a resposta certa (entenda-se a resposta esperada)!

Por isso é muito natural que estejamos mais “programados” para “OUVIR PARA RESPONDER” do que para “OUVIR PARA COMPREENDER”.

Qual foi a última vez que, antes de responder com uma crítica ou um comentário sobre algo que discordava, se permitiu parar e olhar com curiosidade genuína para as coisas importantes que o outro dizia?

Qual foi a última vez que, antes de responder, se permitiu deixar de lado o seu ponto de vista e tentar ver as coisas da perspetiva do outro, apenas e só com a intenção de o compreender?

E … qual foi a última vez que EU, que agora vos escrevo, também o fiz? Pois, não com tanta frequência quanto o desejo, mas está tudo bem … é um caminho que se aprende a trilhar!

Que não se pense que sou dotada de extraordinárias habilidades e venho para aqui ensinar. Apenas posso estar eventualmente um pouco mais sensível a este assunto e ter esta vontade de fazer melhor, de acolher e de partilhar aquilo que me parece poder ajudar.

Acredito que a nossa vida se rege muito pela qualidade das nossas relações, sejam elas pessoais, profissionais ou familiares. E saber escutar de forma ativa e disponível para entender, em vez de reagir ou automaticamente responder, pode trazer um acrescido bem-estar, compreensão e satisfação pessoal, profissional e familiar aos nossos dias.

No que se refere à educação das nossas crianças e jovens, muito se poderá dizer. Uma das principais DORES DE INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA, é de dor de se sentir constantemente incompreendido, julgado e criticado. Estão lembrados? Então porque nos esquecemos como, nessa altura, foi tão difícil para nós suportar essa dor e agora repetimos padrões dos nossos pais com os nossos filhos ou alunos?

Frequentemente ouvimos pais a afirmar que não conseguem comunicar com os seus filhos, que eles não os ouvem, que o que dizem não surte o efeito que desejam. Vale a pena parar para pensar em que ponto do ciclo da comunicação o fluxo foi cortado e como o podemos reatar.

E os pais explicam que tentam falar com os filhos, que se tentam interessar e fazer-lhes perguntas, mas que eles “fogem” e se “escondem” com respostas minimalistas e/ou totalmente insatisfatórias, tipo: “Correu tudo bem” ou “Nada de especial” ou “Ok” ou “Hum, hum”.

Duas questões se colocam: As perguntas que habitualmente fazemos serão as melhores perguntas para conduzirem às respostas que desejamos? Sobre este tema escrevi um pouco num artigo anterior neste mesmo blog – remeto-vos para lá: "A Arte de Perguntar".

A outra questão é: Será que quando perguntamos, estamos verdadeira e plenamente abertos á resposta, ou apenas perguntamos para confirmar, avaliar ou julgar, e desse modo (acreditamos nós) poder ajudar?

Uma boa conversa começa com uma simples pergunta: “Conta-me mais sobre isso …” ou “Para eu entender, o que poderia ser isso para ti?”

Porém, para que um bom início se materialize numa efetiva boa conversa, estas perguntas terão de serão seguidas duma ESCUTA ATIVA E INCLUSIVA.

Algo como: Entendi que me estás a dizer que não queres ir à escola. De acordo com o teu ponto de vista, como poderia ser para tu aprenderes e desenvolveres as tuas capacidades e habilidades?“

Para se conseguir construir uma BOA CONVERSA (não, não nasce de geração espontânea) tem de existir presença, conexão e um sentido biunívoco da comunicação. E para tal, não basta perguntar. É preciso saber escutar!

E quanto mais os pais e/ou professores de crianças e adolescentes aprenderem (sim, aprenderem!) a escutar, melhor e mais tranquila será a comunicação.

Uma BOA ESCUTA necessita ser:

- Ativa, com atenção plena, focada na criança ou no adolescente (sem interferências);

- Recetiva e acolhedora, com interesse genuíno no que a criança ou jovem tem a dizer, sem reações apressadas, comentários julgadores ou “mas” …

 - “Validativa”, ou seja com emissão de um sinal de que aquilo que está ser dito é válido e digno de ser considerado. A validação abre as portas do coração!

 - Inclusiva, que incluí aquilo que foi dito na construção duma possível solução;

 - Pró-ativa, ou seja, deve ser consequente e de alguma forma útil, sendo colocada em prática nas realizações que se seguem a essa conversa.

Só assim as crianças, os jovens ou qualquer pessoa, se poderá sentir verdadeiramente escutada, acolhida e incluída. Porque quando assim não é … todos vamos vivendo com aquela permanente e insistente sensação de que não somos ouvidos …

É tempo de PARAR, OLHAR e ESCUTAR … para melhor COMPREENDER e poder RESOLVER!

 

“Quando falamos estamos somente a repetir aquilo que já sabemos.

Mas se escutarmos, pode ser que aprendamos qualquer coisa nova.”

Dalai Lama

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02
Mar21

A Arte de Perguntar

Educação

Será que a mudança começa em cada um de nós?

Será que se os adultos mudarem algo no modo como lidam com as crianças e jovens, as crianças e os jovens mudam?

Será que ter BOAS CONVERSAS, que levam a criança/jovem a pensar e a descobrir mais sobre si, sobre os outros e sobre o mundo, pode abrir novos campos de realização e satisfação familiar e escolar?

Os pais e os professores precisam, cada vez mais, alterar a sua postura – passar de “Mestre” a “Coach”, não dando respostas prontas mas questionando as situações para colocarem os pequenos a pensar e a encontrarem as suas próprias respostas.

Como iniciar uma boa conversa? Com PERGUNTAS. Boas perguntas. Perguntas que induzam a REFLEXÃO, a DECISÃO e a AÇÃO.

Boas perguntas acolhem a criança/jovem e abrem um espaço emocional interno de autoescuta, sem pré-julgamentos, incentivando a criança a exprimir o seu ponto de vista ou sentimentos não desvendados.

Para tal, será essencial não partir de pressupostos e preconceitos que ativem a nossa arrogância de adulto, sempre prontos a presumir e a julgar antes de perguntar ou escutar. Uma boa conversa começa com uma simples pergunta: “Conta-me mais sobre isso …”, “Para eu entender, o que poderia ser isso para ti?”

Boas perguntas são isentas, imparciais e por isso não devem ser feitas quando estamos emocionalmente alterados. Boas conversas acontecem quando estamos em equilíbrio e centrados no firme propósito de levar a criança a pensar e a descobrir mais sobre si. E isso não se compadece com pressas e impaciências, faltas de tempo e sequestros emocionais.

Exemplos de perguntas pouco eficazes:

  • Os brinquedos nasceram aqui na sala?
  • Vais arrumar isso agora ou não?
  • Vais chegar outra vez atrasado à escola?
  • Ainda não percebeste que quem não lava os dentes fica com dor de dentes e tem de ir ao dentista?

Exemplos de BOAS PERGUNTAS:

  • Onde podes arrumar os brinquedos, para que amanhã saibas onde estão e possas brincar muito com eles, outra vez?
  • Se pudesses encontrar um modo de estares pronto antes da hora, como seria?
  • Como podes fazer para que a tua boca fique bem fresca e agradável?

Para as boas perguntas serem eficazes, é necessário que o adulto esteja muito presente e concentrado nas palavras que profere, para que consiga efetivamente ajudar a criança/jovem a sair do ciclo vicioso de autoproteção em que se encontra.

Perguntas com PORQUÊS não costumam funcionar, pois não? Este tipo de preposição leva à racionalização automática e leva a criança /jovem a contar um rol de explicações e justificações sobre o seu comportamento, não encontrando o caminho da solução.

Para ajudar a criança/jovem a sair do recorrente estado de “não sei”, de “queixa/culpados” ou do “contra”, a linguagem não deve ser usada no presente de forma direta, perguntando como é, o que quer ou o que sente … porque aí será mais provável que a resposta seja defensiva: “não sei”, “nada”, “não gosto”, “não…“.

Ajudar a criança/jovem a abrir-se com confiança, segurança e tranquilidade exige do adulto a consciência de que as palavras e o tempo verbal certo da linguagem usada irão ajudar a criança/jovem a encontrar um novo padrão de POSSIBILIDADE. Para tal, perguntas no condicional, perguntando “COMO SERIA SE …”, irão facilitar a verbalização dos seus desejos, pois sente que existe, da parte do adulto, um acolhimento e um verdadeiro interesse em a/o escutar.

 As crianças não estão, normalmente, habituadas a verbalizar os seus desejos e sentimentos mais genuínos e profundos. Nós, adultos, habituámo-las a verbalizarem o que queremos ouvir, por isso, mudar o padrão, carece de algum tempo e paciência. Exemplos: “Entendi que tu não sabes como poderíamos resolver esta situação, mas se existisse uma forma de encontrar uma solução, qual seria?”, “Entendi que não sabes, e não tem qualquer problema não saberes. Existe alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar a descobrir?”.

Abrir caminho para uma boa conversa implica sempre acolher as afirmações da criança: “Entendi que me estas a dizer que não é verdade. De acordo com o teu ponto de vista, qual seria a tua verdade sobre esse assunto?”, “Se conseguisses ver a situação do ponto de vista do teu colega, como seria?”, “Entendi que não gostas da escola. E o que poderia acontecer que te fizesse gostar mais da escola? O que poderia acontecer na escola que te deixaria mais feliz, fazendo com que tu realmente gostasses de lá estar?”.

Depois de abrir a POSSIBILIDADE para a criança/jovem dar um primeiro passo na verbalização do seu desejo mais profundo, será mais fácil para o adulto entender qual a dor ou o incómodo que está por detrás desse desejo e dirigir a conversa para uma solução que integre e inclua essa necessidade, agora revelada. A partir daqui, o adulto continua a abordagem através de perguntas que tragam ainda mais clareza para a situação e que possibilitem uma saída para aquilo que pode ser feito AGORA para que a criança/jovem vivencie o que realmente deseja.

A mudança começa em cada um de nós, e como adultos, as mudanças das nossas crianças e jovens também começam em nós! E talvez a arte de perguntar seja afinal a arte de permitir e ajudar os pequenos a encontrarem as suas próprias respostas!

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 FONTE: Instituto de Coaching Infanto-Juvenil, Método Core Kidcoaching, Método Growcoaching

12
Jan21

Mentalidade Fixa ou de Crescimento

Educação

Nestes tempos de mudança rápida em que nos são pedidas novas formas de pensar, ser e estar com as pessoas, na sociedade e no mundo … em que cada vez mais o modo como nos vemos a nós próprios, aos outros e às circunstâncias impacta o nosso dia-a-dia, as nossas escolhas, as nossas oportunidades, a nossa realidade … a nossa vida … é incontornável falarmos daquilo que está por trás de tudo isso – a nossa MENTALIDADE!

E a mentalidade começa a ser construída desde a mais pequena idade, em casa e depois na escola … certamente também na adolescência e em adulto. Mas tem raízes profundas na fase de construção da nossa personalidade e é posteriormente alimentada por todas as vivências da nossa vida.

A nossa mentalidade funciona como uns óculos que colocamos em criança e a partir daí continuamos a ver através dessas lentes … de tal forma que nos esquecemos que temos os óculos postos e poucas vezes nos lembramos de atualizar a graduação das lentes.

A educação, seja familiar ou escolar, tem muita influência na construção da nossa mentalidade, e ter a consciência dos desafios do século XXI é fundamental nas escolhas educativas. De pais e professores.

Não! A educação não é nem deve ser igual à educação que nós tivemos.  Novos tempos requerem novas formas de olhar o mundo, novas habilidades e competências, novos modos de ser e de viver, novas soluções!

Contudo, parece que muita coisa nas nossas escolas e nas nossas famílias acontece em modo automático e de “copy/past”. O tempo das crianças e jovens passa rápido, e num instante a infância e a adolescência passou … e pouco ou nada mudou. Porquê?

Porque não se muda a educação sem mudar a MENTALIDADE de quem por lá anda. Não se constrói uma nova mentalidade nas nossas crianças e jovens sem mudar a mentalidade de quem os educa.

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Falemos então de MENTALIDADE DE CRESCIMENTO versus MENTALIDADE FIXA.

A mentalidade fixa alicerça-se na crença de que a inteligência é inata e imutável, o que se traduz num sentimento de que “Não vale a pena esforçar-me, porque vai ser sempre assim!”. Pessoas com uma mentalidade fixa acreditam que os resultados obtidos dependem 65% da capacidade e 35% da dedicação.

De forma diferente, uma mentalidade de crescimento alicerça-se na crença de que a inteligência pode ser desenvolvida (é mutável), o que se traduz num sentimento de que “Os resultados dependem da dedicação e da persistência”. Pessoas com uma mentalidade de crescimento acreditam que os resultados obtidos dependem 35% da capacidade e 65% da dedicação.

Estes dois tipos de mentalidade aplicam-se em todas as áreas de vida e em todas as situações. Contudo, desde a infância, a construção duma ou doutra mentalidade com base na crença sobre a plasticidade da inteligência e da capacidade pessoal tem um grande impacto no desempenho escolar. Ou seja, aqueles alunos que acreditam que a inteligência pode ser desenvolvida valorizam e aplicam mais esforço, dedicação e tempo, atingindo melhores resultados, do que os alunos que não acreditam.

Por conseguinte a formação de uma mentalidade de crescimento desde de tenra idade é crucial para o desenvolvimento de capacidades e competências pela vida fora.

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Esta consciência é tão mais importante, quanto existem estudos diversos que apontam que, dos 10 aos 18 anos e à medida que o aluno avança no ano de escolaridade, a sua mentalidade vai ficando progressivamente mais fixa. Em números referenciais, cerca de 80% dos jovens na idade do 2º CEB acreditam que a inteligência se desenvolve; no final do 3ºCEB essa percentagem diminuiu para perto dos 50%; e no final da escolaridade obrigatória mais de 60% já não acreditam plenamente que a inteligência pode ser trabalhada, mas que pelo contrário, é algo inato e estático, estando conformados com o facto de algumas pessoas não conseguirem atingir níveis de competência semelhantes a outras.

E tu? No que acreditas? Qual a essência da tua mentalidade? Fixa ou de crescimento?

E agora, no que escolhes acreditar?

Como podes ajudar as pessoas (crianças, jovens e adultos) à tua volta a desenvolverem mais uma MENTALIDADE DE CRESCIMENTO, e dessa forma acederem à melhor versão de si mesmos?

E espreita, com legendas em PT ... "Mentalidade de um Campeão" - Carson Byblow - 10 anos:

https://www.youtube.com/watch?v=px9CzSZsa0Y

 

 

21
Dez20

Crescer dói

Adolescência

Pois é … crescer dói. Ouvimos isso por aí. Mas talvez não seja só assim. Eu diria que crescemos na dor, mas também no amor. Este equilíbrio é o centro da vida e dum crescimento saudável.

Alvitro que não existe etapa da vida em que as mudanças de crescimento sejam mais bruscas do que na ADOLESCÊNCIA. Nesta fase, parece que acontece tudo ao mesmo tempo e que lhes está a ser pedido que se tornem adultos sem deixarem de ser crianças … por isso, não é fácil ser adolescente, pois eles sabem que já não são crianças, mas não obstante, por vezes ainda se sentem-se como tal.

É sabido que na adolescência acontecem em simultâneo várias transformações: físicas, psíquicas, emocionais e sociais. É por isso natural que no meio de tanta exigência, o adolescente se sinta dividido, vivendo inevitáveis crises de identidade, às quais estão associadas determinadas DORES PSICOLÓGICAS que, por não serem físicas, não são menos importantes e/ou relevantes.

É essencial que os adultos, pais e professores, que lidam com estes jovens conheçam e estejam atentos aos processos de transformação pelos quais os seus filhos/alunos estão a passar. O que não será muito difícil, pois nesta fase e no meio das suas crises ou stresses pessoais, eles “gritam” as suas dores para mundo. Os sintomas podem estar mais claros ou mais encobertos, podem ser expressos diretamente ou apenas manifestados no corpo, mas estão lá.

A partir dos 10/12 anos, alguns pais têm a tendência para “largar da mão” – “Ele já não é criança!”. Porém, é preciso ter consciência de que o jovem ainda não é adulto (o seu cérebro ainda está em formação) e que, nesta etapa da sua vida, ele se encontra sem bússola perante uma encruzilhada. Vai ter de experimentar para testar. E sem rede é mais duro e pode até ser perigoso!

Por isso, para que o adulto cuidador, através de uma maior aproximação ao jovem, consiga promover essa rede e transformar para melhor a sua relação com o adolescente, é importante que o pai/mãe conheça e esteja atento às “dores” do seu filho, tantas vezes sofridas em silêncio …

 Neste sentido, e para que cada vez mais pessoas possam ter esta consciência, vem a propósito divulgar ou relembrar as 7 DORES DO ADOLESCENTE.

Conhece quais são?

1 – ENCONTRAR O SEU LUGAR NO MUNDO … descobrir quem é, quais são as suas forças, o que tem de especial e único, e a partir daí escolher os seus valores e fazer as suas opções morais, espirituais e relacionais. A ausência duma identidade e duma definição interna gera no adolescente desconforto e conflito interno, muitas vezes inconsciente para si e para quem cuida de si.

2 – SENTIR-SE CONSTANTEMENTE INADEQUADO E JULGADO … ou pelas palavras do próprio adolescente, sente que nada do que faz está suficientemente bem e que por mais que se esforce, existe sempre algo em falta ou por corrigir. Vive com uma sensação constante de inadequação e uma dúvida recorrente sobre se é bem aceite e se corresponde às expectativas dos pais, pois estes não param de dar sugestões e opiniões sobre como deveria ser ou fazer.

3 – TER UM AMIGO E LIDAR COM ESSA RELAÇÃO … muitas vezes, nesta fase de grande intensidade emocional, a confiança e companheirismo vêm associados ao medo de “não ser amado” ou de “ ficar sozinho”, bem como a uma tendência para a subordinação afetiva e/ou para o ciúme. Alguns adolescentes não têm amigos e sentem-se mal por isso. Outros, estabelecem relações especiais de dependência. Em nenhum destes casos a situação é isenta de ansiedade e dúvidas existenciais.

4 – RELACIONAMENTOS AFETIVOS … a grande maioria dos adolescentes sente uma grande necessidade de ser aceite por alguém e de encontrar um “namorado/a” que goste dele/a. Não existe uma preocupação deliberada com as relações sexuais, mas de sim por “quem gosta de mim” e se “de quem eu gosto, gosta ou não de mim”. Tudo isto é vivido com grande intensidade emocional e com um sofrimento determinista sobre a incapacidade de vir a encontrar o seu parceiro ideal.

5 – LIDAR COM AS MUDANÇAS DO SEU DESENVOLVIMENTO FÍSICO … estando a passar um período de grandes transformações no seu próprio corpo, tendo um metabolismo acelerado e intenso, é natural e comum que o adolescente alterne entre estados anímicos de grande energia, alegria ou até euforia, e outros de grande cansaço, muita fome, mau humor e/ou de irritação. Esta fase requer uma especial atenção dos adultos, pois o jovem pode estar a ter determinados comportamentos … mas ele “NÃO É” esse comportamento. Ele é quem está e vai passar por isso!

6 – LIDAR COM A SUA APARÊNCIA FÍSICA … com o seu corpo a transformar-se na “imagem adulta” e com os rígidos e exigentes padrões de beleza que atualmente circulam nas redes sociais … admitamos que não é fácil lidar com tanta expectativa, o que inevitavelmente pode gerar altos padrões de ansiedade e um sentimento profundo de inadequação e insuficiência.

7 – LIDAR COM AS PRESSÕES ESCOLARES … de obtenção de bons resultados e de sucesso escolar, desportivo, etc., associada a uma cultura global de quase “alergia” ao erro e ao falhanço, é quase fatídico para o adolescente. E estas pressões vêm de todo o lado – dos pais, da escola/professores e da sociedade em geral (até dos amigos e dele mesmo!). “Falhar é mau!” e o “medo de errar e de por isso ser criticado” é real!

Ok, eu percebo que o meu filho passa por essas “dores” e eu até queria muito poder ajudá-lo … mas ele não fala comigo, isola-se e não quer estar com a família. Como posso chegar a ele?”

Estando presente, verdadeiramente presente, no tempo, no espaço e na aceitação empática, compreensiva, acolhedora, não-julgadora, confiante e incentivadora.

Ah, mas isso não é nada fácil. E depois? Isso chega? Vai dar resultado?”

Sim, por vezes não é nada fácil (mas é possível) e às vezes resulta, outras não. E é aí que o Programa TEENCOACHING pode ajudar o adolescente (se ele quiser) - e os pais também - a entender que pode ter os seus próprios pensamentos, e ao mesmo tempo ser capaz de ouvir e compreender os pensamentos dos adultos, o que irá criar no jovem uma nova condição de alívio e de adequação apaziguadora.

Crescer dói … mas pode doer menos ... ao adolescente e aos pais também!

Fonte: ICIJ – Programa TeenCoaching - Método GrowCoaching

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03
Dez20

Presente

Envelhecer é para todos

Atualmente, cerca de 20% da população portuguesa é idosa – são cerca de dois milhões de pessoas! Prevê-se que em 2080 este número atingirá quase de 40%!!

A esperança de vida em Portugal tende a aumentar. Há 50 anos a esperança de vida em Portugal era de 70 anos para as mulheres e de 64 anos para os homens. Em 2018, cresceu até aos 83 anos e 78 anos respetivamente! A tendência mantem-se … e a “idade padrão” da nossa reforma também vai avançando (não é para todos, mas isso seria outra conversa!).

Temos hoje mais quantidade de tempo, mas será que também podemos usufruir duma maior qualidade desse tempo?

A geração que está agora acima dos 70 anos foi uma geração trabalhadora e cuidadora. Os homens trabalhavam e a maioria das mulheres estava em casa a cuidar da família e dos idosos da sua família. Envelhecia-se em casa no seio da própria família. Naturalmente a sua justa expectativa era serem também cuidados da mesma forma … mas a vida trocou-lhes as voltas, prolongou-lhes o tempo de existência, mas não lhes providenciou o merecido aconchego.

Nas famílias atuais ambos os pais/filhos trabalham, o acesso à educação, à saúde, à cultura, ao lazer é mais fácil, mas as exigências da vida diária são tantas que o tempo se esvai entre os dedos. Nos dias de hoje a organização familiar enfraqueceu e não apoia nem os mais velhos nem os mais novos. São tempos difíceis, em que cada um tem de se organizar por si …

Nesta alteração social, a geração mais velha confrontada com a possibilidade de ter mais anos de vida e menos organização/apoio familiar, vê-se agora na forte iminência de lidar com a solidão no final da sua vida. Em Portugal, foram sinalizados mais de 45 mil idosos que vivem sozinhos ou isolados e cerca de 40% da população portuguesa com mais de 65 anos está sozinha durante 8 ou mais horas por dia (dados de 2017). Ou seja, quase um milhão de idosos vive em situação de solidão ou isolamento.

Numa idade mais avançada, lidar com o declínio de capacidades associado muitas vezes a um estado de solidão e de isolamento social, leva muitas vezes a um desinteresse pela vida e a um profundo estado de sofrimento. Estamos certos que não desejamos isso para nós mesmos …

Não podendo ser indiferente a esta realidade social e familiar, proporcionar o melhor aos nossos queridos pais e idosos, passa muitas vezes por um conflito interno e é sem dúvida um enorme desafio ao nosso equilíbrio emocional.

Por isso, não sendo uma decisão fácil para ninguém, nem para pais nem para filhos, há que encontrar a melhor solução … aquilo a que, de alguma forma, podemos chamar lar, não no sentido do “abrigo”, mas no sentido dum lugar onde os idosos se podem sentir aceites, respeitados e acarinhados. Uma solução da qual sejamos agentes ativos e participativos. Uma solução que resolva, apoie, mas não nos descomprometa ou nos afaste de responsabilidades. Hoje são eles, amanhã seremos nós!

É bom lembrar que estamos todos na linha do tempo, todos caminhamos para lá … e que será importante não perder o foco e tratar os nossos pais como gostaríamos que os nossos filhos nos venham a tratar no futuro. Ou por outras palavras, não se afaste. Descanse, confie … e telefone regularmente, escreva uma carta, envie uma encomenda … faça visitas. Esteja presente.

Seja o presente!

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17
Nov20

Eneagrama - O GPS da Vida

Eneagrama

Vivemos tempos de mudança. E toda a mudança rompe com rotinas e estados de equilíbrio vigentes. Alguns de nós anseiam pelo “regresso à normalidade” … mas o tempo vai passando e cada vez mais percebemos que o tempo não volta atrás e que esse regresso não irá acontecer.

Pelo contrário, no fundo de nós, sabemos que enfrentamos o desafio de criar novos equilíbrios e de nos adaptarmos às novas exigências. Precisamos de encontrar novos modos de pensar e de agir, novas formas de nos comportarmos e de nos relacionarmos. Precisamos encontrar novos caminhos de felicidade.

Ao longo destes 9 meses de emergência pandémica cada um de nós reagiu e adaptou-se à nova realidade, à sua maneira, consoante as suas possibilidades e características da sua personalidade. 

O Eneagrama é uma ferramenta de autoconhecimento que aborda os diversos tipos de personalidade o qual nos permite ver e entender melhor QUEM SOMOS, de onde vimos e PARA ONDE VAMOS.

De uma forma sistémica, clara e dinâmica o Eneagrama mostra-nos quem somos, bem como os nossos caminhos psicológicos de crescimento e de stress. E ao melhorarmos o entendimento sobre nós, também acedemos a um melhor entendimento sobre os OUTROS, e consequentemente, a um novo ponto de vista sobre as nossas RELAÇÕES.

No seu símbolo geométrico, o Eneagrama tem representados nove tipos de personalidade. Podemos olhar para ele como um GPS da Vida, pois, através do seu conhecimento e vivência, podemos ser orientados na nossa jornada de crescimento pessoal, relacional e/ou espiritual, e desta forma, conseguirmos atingir resultados mais satisfatórios e felizes de uma forma mais consciente e rápida.

Toda a mudança se inicia num processo de autoconhecimento, e os nove caminhos do GPS da Vida que o Eneagrama nos mostra podem facilitar-nos uma maior compreensão dos nossos comportamentos e rotinas, bem como uma maior clareza e conhecimento sobre a melhor direção a seguir. Por exemplo, o entendimento de que cada um dos nove eneatipos reagirá tendencialmente duma forma diferente às adversidades que a pandemia nos tem imposto, será certamente um conhecimento que fará toda a diferença nesta busca de novos caminhos pessoais:

Perfecionista – Busca pela excelência

Dependendo do que lhe aconteceu durante a maior parte da quarentena em termos de impacto na sua vida, irá procurar rapidamente quais as melhores rotinas no novo enquadramento, Assim será mais fácil ou difícil a sua rapidez de adaptação.

Dador – Serviço aos outros

Vai entrar nesta nova realidade com muita disponibilidade para interagir e ajudar as outras pessoas. Pretende rapidamente esquecer algumas situações em que se sentiu frágil e, deste modo, focar-se bastante em ser prestável.

Realizador – Obtenção de resultados

Terá a visão de uma nova vida, podendo inclusive definir planos e objetivos, aumentando imenso os desafios desta nova realidade. Poderá ser das pessoas com melhor poder de adaptação e dos primeiros a ter bons resultados.

Romântico –  O empenho de realizar uma paixão

Enfrentará alguma dificuldade na gestão das suas emoções. Dependendo de como entendeu e geriu as dificuldades destes tempos difíceis, assim poderá ter maior ou menor resistência em retomar procedimentos efetivos de acordo com o que for melhor para si.

Observador –  A importância da objetividade

Irá entrar nesta nova realidade de um modo calmo e seguro, como se nada tivesse acontecido. Durante o período de maior confinamento, recolheu muitas informações que lhe serão úteis para aumentar o seu conhecimento.

Cético Leal –  Discernimento e planeamento

No seu quotidiano nesta nova realidade, poderá ter algumas dúvidas em relação à sua segurança e à da sua família. Poderá necessitar de verificar situações mais que o normal. Irá procurar encontrar um maior equilíbrio nos seus pensamentos e traçar um plano seguro.

Entusiasta –  Inovação e flexibilidade

Irá entrar nesta nova realidade com bastante entusiasmo e com múltiplas ideias que irão sofrendo algum decréscimo conforme for entrando em rotinas que entenda desnecessárias ou supérfluas. Poderá procurar uma nova realidade profissional para sentir uma motivação extra.

Controlador – Fazer acontecer coisas importantes

Estará disponível para fazer acontecer coisas em grande. Vai sentir-se cheio de energia porque considera que consegue sair vencedor da situação. Vai estar mais ativo e disponível para ajudar as pessoas mais fracas, embora sempre impondo os seus pontos de vista.

Harmonioso – Inclusão e consenso

 Sempre atento e preocupado com o bem comum, o tempo em que esteve isolado poderá ter criado um estado energético baixo e poderá precisar de mais tempo que os outros para vencer a “inércia” e regressar às suas rotinas e ao seu ritmo normal.  

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Todos já percebemos, que com um GPS o caminho se torna mais fácil e direto, e que muitas vezes nos atrevemos a ir a sítios que doutra maneira não iriamos ... bora lá!

Contacto: boralacoaching@gmail.com

01
Nov20

Passar o Inverno

Superar a Pandemia

Novas medidas. Outra vez! Quando é que isto vai parar?

O que mais vem por aí? Como é que vão ser os próximos meses?

Começamos a perceber que mesmo que sejamos dos mais afortunados e a pandemia não nos tenha afetado muito, existe muita gente que caiu a pique, que está já desesperada e dependente de ajuda …

Já lá vão 8 meses, aproxima-se o inverno e apesar da sensação de que nos estão a tirar a liberdade, já começamos a conseguir olhar para o lado e calçar os sapatos dos outros, dos que perderem o emprego, dos que perderam o negócio ou a empresa, dos idosos “ presos” nos lares, das crianças criadas no medo e empurradas para um “castigo” contranatura … e nós mesmos, cada um com os seus desafios, que por muito pequenos que sejam, se vão somando, somando … reduzindo gradualmente a nossa tranquilidade e aumentando o nosso sofrimento.

Então, neste inverno, como poderemos lidar com a inevitável ansiedade provocada pela atual pandemia?

Se em nós existem sentimentos menos bons, de dúvida, insegurança, incerteza, tristeza, preocupação, medo,  saudade, nostalgia … que tal mudar o foco da nossa atenção para fora de nós?

A “distração” daquilo que não nos serve sempre foi uma boa estratégia. Afinal, aprendemos isso na nossa infância. Regressar à leveza e à simplicidade de criança pode-nos ajudar, pois, como adultos, temos a tendência para sermos escravos da nossa mente. São muitos anos a lidar com as nossas crenças e estratégias. Habituamos-mos. Habituamos-mos àquela luta interna. Habituamos-mos ao nosso próprio infortúnio. De tal forma que o aceitamos como natural e inevitável. Sabemos que existem e conhecemos inúmeras sugestões que aliviam o sofrimento mental e emocional, mas nem sempre estamos disponíveis para as incorporarmos.

Talvez a pandemia seja a oportunidade de darmos esse salto. Como se diz, “não vai a bem, vai a mal”. Talvez, o nosso isolamento físico nos alerte para a necessidade de nos conectarmos mais com os outros … naquela perspetiva do ditado que diz que “só damos valor àquilo que perdemos”. Os estudos de psicologia dizem-nos que a CONEXÃO SOCIAL faz milagres na saúde mental e no equilíbrio emocional das pessoas.

OK! Mas como me vou conectar se me mandam isolar?

Podemos aprofundar o nosso nível de conexão com as pessoas da nossa “bolha” e elevar a qualidade da nossa relação. Abrir o coração, desenvolver um genuíno interesse pelo outro, estar verdadeiramente presente para essas pessoas (mesmo que sejam poucas). Tudo começa pelo desenvolvimento das nossas qualidades relacionais, por treinar a nossa auto-honestidade e por partilharmos as nossas fragilidades. E depois, abrir o coração, os ouvidos e a mente ao mundo do outro. Acolher, escutar e estabelecer aquela ligação com as pessoas que mais amamos, aquela relação que no fundo sempre desejámos, mas que anteriormente se perdia nas múltiplas exigências e correrias diárias.

Mas também podemos aproveitar a tecnologia para estarmos virtualmente presentes para os nossos amigos e familiares, seja com iniciativas mais organizadas ou mais espontâneas. Podemos ainda estar atentos e/ou fazer voluntariado numa qualquer instituição de apoio às pessoas mais afetadas pela pandemia, ir a espetáculos, etc. Tudo isto são formas de conexão pessoal e social.

Outro aspeto que nos pode ajudar a passar este desafiante inverno é conseguir ter uma clarividência sobre os nossos OBJETIVOS, o nosso propósito, o porquê daquilo que fazemos. Normalmente, quando sabemos que existe um farol que nos orienta, a navegação torna-se mais fácil. Será bom encontrar algo que possamos fazer e que nos dê esse sentido de alinhamento com o nosso impulso mais profundo – iniciar aquele blog há muito suspenso, começar aquele hobby há tanto tempo adiado, inscrever-se naquela formação há tanto tempo desejada, fazer voluntariado … qualquer coisa que nos faça sentir que estamos mais alinhados com a nossa essência e com os nossos sonhos.

E por último, a GRATIDÃO é o antídoto da ansiedade. Colocar o foco naquilo que se tem, em vez daquilo que nos falta, pode ser uma boa estratégia. Aprender a apreciar mais a vida e a não dar as “coisas” como garantidas é um ativo passo para melhorar o nosso bem-estar emocional. Fazer um diário da apreciação e/ou gratidão, das nossas conquistas desse dia, daquilo que correu bem, ajuda muito a ter o foco no que de bom temos na nossa vida! E porque não partilhar isso com alguém que esteja longe, e que assim se vai sentir mais perto? Porque não, no final do dia enviar uma mensagem a um amigo com aquilo que de bom aconteceu no nosso dia?

Virar o foco para fora de nós, respeitando a nossa própria natureza, pode ser muito benéfico para a nossa saúde mental. E já agora, a propósito de natureza … ir para fora, CAMINHAR E APRECIAR A NATUREZA em locais de pouca presença humana, ligarmo-nos à vida natural que nos rodeia, aprender com ela … também nos pode ajudar a encontrar o nosso equilíbrio emocional.

Este é um tempo de transformação e regeneração da nossa identidade pessoal e coletiva. O foco nos problemas, o medo e a ansiedade tira-nos a confiança e torna-nos mais vulneráveis e dependentes. O foco na solução e no que está fora de nós, a autorresponsabilização por aquilo que fazemos com aquilo que nos acontece, coloca-nos no comando e dá um novo sentido à nossa vida.

Vamos passar este inverno, vamos fazer esta travessia, esperançosamente, rumo a uma civilização mais humana, presente e consciente, unida e solidária. Se não negarmos a sombra e tivermos a coragem de a atravessar … inevitavelmente, vamos encontrar a luz.

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